XXIII

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Aquele sorriso vitorioso de Josefina embrulhou o estômago de Clara.

Será que tudo que construirá com Gabriel era mentira? Todas as emoções que compartilharam? Todas as juras de amor? Seria possível que tudo não passou de orgulho ferido?

Não, claro que não . Ela confiava em suas próprias percepções. Sabia o homem honrado com que se casara. Ele a amava. Tanto quanto ela o amava. Os dois eram felizes.

Clara empinou o queixo e deu um sorriso desdenhoso para Josefina.

-Estou perfeitamente ciente dos defeitos do meu marido, srta Josefina. - enfatizou a palavra marido. - Também estou ciente que ele é um homem honrado. E mais ciente ainda das maravilhas que vivenciamos a cada dia e noite, se é que me entende. E eu lamento profundamente por você que não foi capaz de ver além de suas cicatrizes, mas não lamento por ele, afinal Gabriel se casou com alguém infinitamente melhor que você, Josefina Albuquerque.

O sorriso de Josefina se desfez e Clara continuava com um sorriso triunfante.

- Ah, meu Deus! - a exclamação de Analice tirou ambas do transe. - Não sei se estou melhor porque vomitei até as tripas ou por você ter colocado Josefina Albuquerque em seu devido lugar.

Clara sorriu para a amiga.

- Vamos que nossos maridos estão nos esperando, Analice. - disse Clara.

Quando Gabriel viu Clara saindo daquele quarto, seu coração se aquietou principalmente porque ela vinha sorrindo em sua direção. Desde o momento em que vira Josefina entrar, pensou no que aquela víbora poderia dizer à sua amada. Clara era um ser doce e aquela maldita iria devorá-la.

Ele não conseguiu esperá-la e foi até ela.

- Você está bem? Ela lhe ofendeu? - perguntou segurando-a em seus braços.

Mas antes que Clara pudesse responder, Josefina apareceu.

- Como você teve coragem de trazer essa mulher aqui? Foi pra me humilhar, não foi? - a voz era contida para não chamar atenção, mas emanava ira.

Gabriel estreitou os olhos e falou com mansidão:

-Desculpe, srta Albuquerque, mas nunca me passou pela cabeça humilhá-la até porque não perco um só segundo do meu tempo pensando na senhorita. Mas aceite minhas desculpas se foi isso que dei a entender. - ela irritou-se ainda mais com a ironia presente em cada palavra.

- Engana-se se pensa que essa mulher ama você. Você é apenas um ser miserável, monstruoso e solitário.

- Não sou solitário, srta Albuquerque. Não mais. Tenho a mulher mais maravilhosa ao meu lado. Mas isso devo grande parte à senhorita. Então aceite também meus mais sinceros agradecimentos. Quando você me disse não, pude esperar pelo anjo mais lindo e doce do mundo: a minha Clara. Mas entendo o seu constrangimento. Entendo que pode estar sentindo-se humilhada. Perto de Clara a senhorita é pálida e desprovida de atrativos. Enquanto a minha esposa é de uma exuberante beleza. Não somente por fora, mas principalmente por dentro. Passar bem, senhorita Albuquerque.

Gabriel olhou para Clara que lhe sorriu. Ele ofereceu o braço e ela se juntou a ele. Os dois saíram em direção ao camarote.

Era uma vez... a Bela que Salvou a Fera (em FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora