II

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Clara abriu os olhos, sonolenta e espiou com curiosidade o homem que ocupava a cadeira ao lado da cama. Ela sentia os olhos secos e ásperos, sua boca estava seca de qualquer umidade, e seu corpo inteiro estava dolorido e fraco, mas isso estava na periferia de sua mente no momento. Principalmente, sua atenção estava no homem ao lado dela. Ele era bonito, com seus cabelos castanhos bem claros, quase loiros e o que teria sido um rosto quase perfeito se não fossem aquelas cicatrizes na face direita.

Com os olhos apertados, ela examinou as cicatrizes com interesse. As cicatrizes davam a ele uma aparência de raiva. Deviam ter pelo menos cinco ou seis anos. Ela o examinou por mais um momento e depois voltou sua atenção para o resto do homem. Ele era grande, pelo menos duas vezes mais largo que ela nos ombros. Na verdade, ele tinha um belo peito pelo que ela podia ver. Ele também tinha pernas longas e musculosas, ela notou enquanto seu olhar deslizava para baixo. Oh, Deus! O que estava pensando? Aquilo não era nada apropriado.

Mas então, havia pouco que era apropriado sobre o homem. Ele não deveria estar no quarto dela...  Ela não o conhecia. Será que era algum dos capangas de Antônio. Oh, céus! Ele devia estar irado com ela. O medo se apoderou dela. Precisava fugir dali. Urgentemente. Com todo cuidado para não acordar o homem, tentou se levantar, mas a dor em seus pés ao tocaram o chão foi pungente. Ela deu um gritinho estrangulado saiu sem que ela ao menos se desse conta.

Gabriel acordou assustado. Inferno! Ele tinha adormecido novamente. Provavelmente a pobre moça estava tendo outro pesadelo. Olhou diretamente para cama e congelou a expressão de dor no lindo rosto daquele anjo. Ela não estava sonhando, estava acordada agora, sentada na cama.

- Quem é você? - ela choramingou sentindo ainda a dor nos pés.

- Você sente alguma dor? - ele ignorou totalmente a pergunta dela.

Gabriel se aproximou dela e se agachou em frente a ela, mas Clara se afastou. Temerosa. Ele sabia que eram as cicatrizes que a faziam se afastar. Ele sabia o monstro que era. Sabia que causava ojeriza, repugnância, medo. E isso o fez se afastar dela. Gabriel foi para perto da janela. O coração estava acelerado no peito. Não queria que aquele anjo sentisse medo dele, mas ninguém pode fugir do que realmente é. As malditas cicatrizes eram tudo que ele via quando olhava no espelho. E era tudo o que qualquer um via também. Ele sabia disso com certeza. Suas cicatrizes eram conhecida por fazer mulheres e crianças gritarem ou chorarem. Embora os gritos tenham acontecido principalmente quando ele foi ferido. As reações recentemente tinham sido muito mais discretas, um lábio torcido com desgosto, um arrepio de repulsa, ou simplesmente se afastando e evitando olhar para ele. Gabriel se voltou para ela, ainda distante, e ela o examinava com os olhos ainda amedrontados.

- Por favor, não me entregue a ele.

Uma pequena luz se acendeu dentro dele. Seria possível que o medo que ele via nos olhos dela não eram destinados a ele. Não. Não podia ser.

- Moça, eu nem sei quem é esse homem que você tanto fala.

- Não sabe? - sua voz foi quase um sussurro. Ele negou com a cabeça. - Você não trabalha pra ele? 

- O que eu sei, moça, é que vi você nas minhas terras e quando fui perguntar quem você era, a moça perdeu os sentidos.

- E você não vai me entregar pra ele? - o coração dela quase parou com aquela pergunta.

- Não, moça. Eu não vou fazer isso. Como eu já disse: eu nem sei quem é esse ele. 

Era uma vez... a Bela que Salvou a Fera (em FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora