III

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Fazia cinco dias que Clara estava na fazenda de Gabriel. Ela não o vira todos esses dias. Dada sempre lhe fazia companhia e lhe contava histórias e mais histórias. Uma coisa que alegrou o coração da doce Clara foi o fato dele ser contra a escravidão, então pagava um bom salário aos seus escravos e estipulava um valor a alforria. E assim vários escravos já eram alforriados. Mas a alforria de Dada fora um presente.

- Eu fui ama de leite do sinhozinho. - Dada falava enquanto ajudava Clara a se banhar. - Quando ele voltou da guerra, eu mesma cuidei dele. Ele não queria ver ninguém da família. Foi quando a maldita daquela branquela azeda veio aqui. - a voz de Dada passou de amorosa a pura raiva. 

- Quem? - perguntou, curiosa.

- Josefina. A noiva do sinhozinho. Ela fez cara de nojo assim que pôs os olhos nele. Eu a odeio com todas as minhas forças. Como se o pobrezinho tivesse culpa de terem machucado ele. Você acredita que ela vomitou quando o viu?

- Meu Deus! - o coração de Clara comprimiu no peito.

- Por sorte o sinhozinho não casou com ela.  Mas as piores cicatrizes que meu menino têm são as cicatrizes da alma. - deu um longo suspiro e contou que Gabriel fora ferido na Guerra do Paraguai. 

Terminado o banho, Dada ajudou-a a se enxugar e enrolada na toalha se sentou na cama.

- Olhe o que meu menino mandou comprar pra você. - Dada mostrou um lindo vestido lilás.

Clara arregalou os olhos, achando o vestido lindo.

- E não foi só esse. Veja só.

Então Dada tirou do baú cinco vestidos, cada um mais belo que o outro. 

- Mandou comprar roupas de baixo e também camisolas. E esse perfume. Sinta, que delicioso.

Dada abriu o perfume e Clara inalou aquele doce perfume.

- Lavanda.

- Sim. Como a cor do vestido que você usará hoje. - desfez o sorriso. - A não ser que você prefira usar outro. Escolhi esse porque amo a cor lilás.

- Eu também, Dada. É minha cor preferida. - Dada sorriu. - Meu Deus, Dada, não sei nem como agradecer.

- Você poderá agradecê-lo hoje no jantar. 

- Hoje? - Dada assentiu com um belo sorriso. - Pensei que ele nem quisesse me ver já que a última vez que o vi foi quando acordei.

- O médico disse que você precisava de descanso, mas como eu avisei ao sinhozinho que seus pés já estavam curados, ele pediu pra lhe perguntar se a menina aceitava jantar com ele hoje.

- É claro que eu aceito, Dada. - falou empolgada.

Dada riu com gosto.

- Venha que eu lhe ajudo.

Clara olhou-se no espelho e achou-se linda. O vestido cor de lavanda caiu-lhe como uma luva. A trança que Dada fez na lateral de seu cabelo era belíssima.

- Está linda, menina.

Clara sorriu.

- Eu me sinto linda, Dada. Obrigada. - aproximou-se de Dada e pegou-lhe as mãos entre as suas. Clara sentiu a aspereza das mãos daquele boa senhora e seus olhos se encheram de lágrimas. - Por tudo, Dada. Você esses dias cuidou de mim como cuida uma mãe. Me fez lembrar da minha mãezinha. Saiba que você estará pra sempre em meu coração. Muito obrigada mesmo. 

Era uma vez... a Bela que Salvou a Fera (em FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora