Os dois casais foram ao teatro em duas carruagens. Clara olhou o monumento à sua frente. Gabriel dissera que o Theatro São José era considerado um dos maiores teatros do Brasil.
- O teatro passou por reformas recentemente. - Gabriel explicou enquanto Clara admirava o prédio.
- Não é um monumento de arte como podem ver. - comentou Carlos. - Infelizmente a reforma não imitou os esplendorosos teatros europeus.
- Não importa a aparência dele, mas sim a beleza que ele nos apresentará lá dentro em forma de arte. - disse Clara e todos assentiram, mas somente Gabriel entendeu o que aquela frase significava e a amou ainda mais.
- Vamos entrar que logo começa. - falou Analice. - Você conhece a obra, Clara?
As duas amigas iam na frente conversando enquanto os maridos as acompanhavam logo atrás.
- Já tive o prazer de ler várias vezes A megera domada.
- Aqui diz que é de Shakespeare. - comentou Analice com o folheto da ópera em mãos.
- Sim.
- Por favor, Clara, conte-me a história ou não entenderei nada. Já que não falo um a de italiano.
Clara riu. Também não falava nada de italiano e as óperas eram no idioma, mas por sorte conhecia bem a história.
- A trama se passa em Pádua, na Itália. Batista, pai de duas mulheres: Catarina e Bianca. Ele estabelece uma condição: para casar Bianca, a filha mais jovem, bela e doce, primeiramente precisa conseguir um pretendente para Catarina, filha mais velha, dura e amarga como fel, uma verdadeira megera. - Clara sorriu e Analice também.
- Nosso camarote é por aqui, querida. - falou Carlos se aproximando da esposa e colocando a palma da mão em sua lombar conduzindo-a escada acima.
Gabriel fez o mesmo com a esposa. Ao chegarem ao camarote de Carlos, os quatro se acomodaram. As duas amigas ficaram juntas e seus maridos ao lado de ambas.
- Continue, Clara. - disse Analice.
- Então aparece em cena, os pretendentes de Bianca, não me recordo o nome, mas lembro que são três. Os três apaixonados por Bianca armam os mais arquitetados embustes para se aproximar dela sem que pai os note. Se tornam, assim, professores de música, de latim e de tantas outras artes. Mas o que precisam mesmo é de um pretendente para Catarina.
Enquanto Analice e Clara estavam entretidas na conversa, Gabriel observava o teatro. As pessoas que chegavam e se cumprimentavam, conversavam. Então ele a viu. No camarote à sua frente, do outro lado do teatro. Os olhos dela pareciam de uma fera pronta para dar o bote. Rapidamente ele olhou para sua esposa, mas ela sorria para Analice. Estava entretida e não percebia a tensão à sua volta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era uma vez... a Bela que Salvou a Fera (em FINALIZADO)
RomanceÉ 1876. Seis anos após a Guerra do Paraguai, Gabriel regressou da guerra com parte do rosto desfigurado. Ele afastou a todos e vive recluso em suas terras por achar-se um monstro, uma fera. Mas isso está prestes a mudar com a chegada da doce e bela...