Capítulo 37

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- Dipper... - Ouvia o meu nome ser chamado, baixo e distante, como se não passasse de uma mosquinha zumbindo no meu ouvido. - Dipper! - Outra vez, porém mais alto, se tornando aquele mosquito irritante que você tenta matar à todo custo. - DIPPER! 

Acordei de súbito. Minhas pálpebras se abriram de supetão, me sentei ereto em um solavanco, causando um repetindo enjoo pela provável queda de pressão ao se levantar rápido demais. Eu sentia todo o meu corpo dolorido, minha cabeça latejando por algum motivo desconhecido. 

Olhei para todos os lados, totalmente atordoado e perdido, encontrando o Tivô Ford ao meu lado direito, este que me olhava de modo preocupado. 

Do canto dos seus lábios, um filete de sangue revelava que boa coisa não estava acontecendo neste momento.

- O que... Aconteceu? - Perguntei, minha voz saindo estranhamente rouca e falha, minha garganta tão seca como se não apreciasse água há anos. Levei minha mão direita à cabeça, onde se encontrava a dor maior do meu corpo. 

Atrás de mim, uma risada alta e, levemente, esganiçada ecoou, causando-me calafrios tenebrosos na espinha.

Girei meu dorso, torcendo um pouco o pescoço para poder ver o dono da gargalhada. Eu preferia ficar sem saber. Um homem alto, de madeixas bagunçadas e que iam além do loiro comum, estava ali em pé, em uma pose prepotente.

- Bill Cipher! - Rosnei, salivando o mais puro ódio. Com certa dificuldade, apoiei-me no chão de terra com uma mão, a qual usei de apoio para me erguer ao poucos e poder ficar de pé. Minha mente ainda enevoada pela confusão, uma tontura horrível causando rebuliço no meu estômago. - O que você fez?!

- Ora, ora, não se lembra, Pinheirinho? - Perguntou-me, era perceptível o deboche em sua voz que me causava repulsa. - Quer que eu lhes refresque a memória? 

As extremidades dos seus lábios repuxaram para cima, se curvando em um sorriso insano.

[...]

- Já chega, Mason! - Esbravejou o meu mentor, já tomado pela impaciência. - Não podemos fazer nada! - Informou o óbvio. O óbvio que me causava frustração, raiva. - Teremos de ficar na tocaia, esperando o momento da sua saída. 

Eu protestei, mas fora em vão. O Tivô estava decidido, firme em seguir com o Plano B, e não me restava opções a não ser obedecê-lo. Por isso, seguimos para o meio das árvores e moitas.

As minhas mãos tremiam em dor pela quantidade de socos inúteis que dei ao tentar derrubar a barreira, os meus olhos ardiam pelo choro desesperado que deixei rolar. Eu estava péssimo, ou até pior que isso. 

Nos sentamos no chão, coberto pelo tapete natural de grama baixa e bem verdinha. Encostei-me no enorme tronco de um pinheiro, tentando ao máximo relaxar. 

O que era quase impossível quando você tem milhões de pensamentos turbulentos ocupando a sua mente.

Minha respiração descompassada, meu sangue correndo por minhas veias de forma rápida; demonstravam o quanto a adrenalina ainda era presente no meu organismo. Nem era preciso falar o quão potente e velozes eram os meus batimentos.

- Dipper, você precisa se acalmar. - Falou com uma voz tranquila, melancólica, mas tranquila, deixando-me ainda mais revoltado. - Sabe que isso foi escolha dela.

- SIM, EU SEI! - Extravasei, deixando sair o que estava entalado na minha garganta. Olhei para o mais velho, minha visão voltando a turvar de lágrimas. - Mas eu tinha uma chance de salvar ela! UMA ÚNICA CHANCE! 

O senhor de idade me encarava impassível, as íris castanhas, iguais as minhas, sendo uma herança genética de família, totalmente gélidas, indiferentes. 

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