Capítulo 40

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- Bill Cipher! - Rosnei em total fúria, salivando ódio por aquele no qual acabara de chamar. - Onde está a minha irmã?! - Impulsionei o meu corpo contra a grade, agarrando as barras de ferro que me impediam de executar o que tanto queria; mata-lo.

- A minha pequena rainha? - Seus dentes se arreganharam em sorriso debochado, talvez até de escárnio. - Está em nosso aposento, me aguardando para mais uma longa noite de amor e luxúria. - Gargalhou baixo, por fim, uma risadinha rouca que, acompanhada da fala anterior, era impossível não maliciar.

- Seu maníaco desgraçado! - Deixei minha voz elevar alguns tons com esse ato de repudio, sentindo minha garganta arranhar pela falta de líquido. - Não ouse tocar nela! 

- Por que não? Já o fiz uma vez, posso fazer novamente. - Aproximou-se à passos ocos, causando um repetitivo eco no ambiente. Perto o bastante, inclinou-se em minha direção, fazendo com que nossos olhos ficassem na mesma reta de altura, a mão direita, completamente enluvada, tocou a haste de metal, apoiando-se para se manter daquela forma.

O olho fixo em mim, aparentava queimar em um fogo ardente que revelava as suas más intenções, junto do seu sorriso nada agradável. 

- Afinal, é maravilhoso ouvir sua querida irmã gemer pelo meu nome com a boquinha vermelha dos meus beijos. - Alargou o seu sorriso de dentes pontiagudos. As lembranças da sua tortura psicológica me vieram na mente. Então aqueles gemidos eram reais, de fato, não apenas uma brincadeira macabra na qual ele nos aprisionava.

A ânsia de vômito que me atingiu fora forte, inevitável e atordoante. Céus, este maldito demônio realmente transou com a minha irmã, arrancou dela a sua pureza e honra.

- Oh, o seu corpo, o seu cheiro, o seu gosto. - O ser pecaminoso em minha frente revirou o olho em uma demonstração exagerada, como também mordiscava o próprio lábio inferior. - Pinheirinho, tenho de te contar, a sua irmã é apertada de um jeito que-

- Chega! - Gritei. Gritei o mais alto que eu pude. A essa altura, eu já havia abandonado as barras para poder cobrir os meus ouvidos, impedi-los de continuar escutando aqueles absurdos obscenos direcionados à minha irmã gêmea.

A princípio, ele me olhou sério, impassível, talvez incomodado pelo fato de eu ter o interrompido. Mas a sua imparcialidade logo deu lugar à uma gargalhada escandalosa, enquanto o seu corpo se retraia, afastando-se e voltando a postura ereta de sempre.

- Você precisava ver a sua cara, estava hilária! - Apontou tanto com a fala, quanto com o dedo. Ao fim do seu ataque de riso, ele fingiu secar uma lágrima imaginária no canto do único olho exposto. - Agora, se me dão licença, tenho negócios a tratar antes de retornar para os braços da minha amada. - Anunciou, ajeitando o seu terno pomposo e antiquado. 

Nada eu conseguia falar, estava perturbado, ou até mais que isso, hora eu o xingava de mil nomes nada educados, hora eu culpava a Mabel por se entregar à um demônio, hora eu me culpava por não ter impedido tal atrocidade.

Tivô Stanford, que até então estava calado e cabisbaixo, frustrado com a nossa situação atual, sentado em um canto escuro da cela, se levantou, caminhando para próximo da grade que nos tirava a liberdade.

- Amada? - Indagou em um sussurro baixo, com a cabeça ainda pendida para frente, sem encara-lo diretamente no olho. - Como ela pode ser a sua amada? - Enfim ergueu o olhar, supondo que para reforçar a veracidade das suas próximas palavras. - Você irá mata-la! - Acusou, em um alto e bom tom.

- Mata-la? - Repetiu baixo em uma indagação confusa, a qual aparentava ser mais para si mesmo. - Haha... - A risadinha ínfima reverberou pela a extensão do calabouço, enquanto seu olhar caia para as mãos que se ergueram à frente do seu corpo. 

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