Capítulo 49

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Eu sentia as minhas pálpebras pesadas, a sensação de estarem seladas, coladas, era um tanto agoniante, parecia como se eu estivesse dormindo por anos, quase uma eternidade, mas, ainda assim, continuava sentindo sono. Era apenas um resultado de uma noite meio conturbada, com direito a muitas interrupções do sono. 

Os raios solares atravessavam o vidro da janela triangular, batendo em minha pele e deixando gostosas carícias com um calor agradável da manhã. Era como um despertador natural que me trazia uma ótima sensação de paz. 

- Bom dia, Waddles! - Cumprimentei com uma leve rouquidão o meu porquinho de estimação, que estava devidamente aconchegado ao meu lado na cama. Dei-lhe um singelo afago na pelagem rala, vendo-o se aninhar ainda mais. Era surpreendente como ele soube se virar tão bem sem mim durante dois meses.

Levantei-me com extrema preguiça, alongando os meus braços para o alto e ficando na ponta dos pés, esticando ao máximo o meu corpo que dava início ao seu funcionamento habitual. 

Encarei o calendário que permanecia exposto na parede, próxima a cama, sendo pendurado por um pequenino prego de ferro. Última semana de Agosto, faltava menos de uma semana para o meu aniversário e, consequentemente, para o fim do verão que veio com todo o seu fervor neste ano. Já fazem dois meses desde o fim do apocalipse.

Inconscientemente eu ergui a minha mão, levando-a até o meu peito, onde um dia eu cravei a lâmina de uma adaga em um sacrifício impulsivo, tomada pela coragem insana e o desejo profundo de salvar o mundo. Hoje há uma espécie de tatuagem, ou marca. O símbolo Cipher.

A antiga forma triangular do Bill, perfeitamente desenhada por linhas firmes, ela estava onde deveria ser uma cicatriz. Seu desenho em preto, escasso de qualquer outra cor. Um único olho aberto, sua pupila felina estava no local exato da facada.

Ainda lembro-me bem de como eu ganhara essa marca, simplesmente acordei, totalmente confusa e desnorteada; a marca já se fazia presente em minha pele.

[...]

Em meio ao cenário catastrófico e nada comum daquela nova realidade, era até normal ver-se, mesmo de longe, dois corpos em queda livre, um desfalecido e outro que mais parecia um ponto amarelo no meio do nada.

Após ver a morena pender para trás e cair no abismo que, com toda certeza, a destruiria caso chegasse ao chão, Bill não pensou duas vezes antes de se jogar. Ela estava distante, não conseguiria alcança-la de modo convencional, e definitivamente não queria presencia aquele pequeno corpo se espatifar no chão e perder qualquer chance de ainda viver.

Por isso ele se teletransportou para trás da garota, agarrando o seu quadril com as mãos e puxando-a para próximo de si. Abraçou-a, envolvendo o seu corpo com ambos os braços, e a aconchegou meio encolhida contra si próprio. Por sorte, ele era maior que ela, sendo assim, facilmente a protegeria do impacto.

Claro, ele poderia levitar, ou simplesmente os teletransportar direto para o chão, sem qualquer queda real e sem dor. Mas a sua mente estava tão enevoada, ele estava tão atordoado e tomado pelo desejo intenso de proteger a humana, que sequer cogitou essas ideias.

Então, quando sentiu a superfície terrestre se aproximar cada vez mais da sua retaguarda, em uma velocidade absurda, ele envolveu a menina em uma energia azul que anularia qualquer dor ou lesão causada pelo impacto.

Suas costas impactaram contra o chão de terra, e graças a altura que caíram, ganhou tanta intensidade que provocou uma pequena cratera na planície. 

- Argh! - Reclamou em dor, ao mesmo tempo que queria poder rir. Ele tossiu sangue, sentindo uma ou outra costela quebrada que já se regenerava com rapidez. - Mabel? - Olhou a menina de madeixas morenas, desacordada em seus braços, que continuava com um corte aberto e a perder sangue. - Mabel!

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