Capítulo 43

166 21 0
                                    

- Por favor, Bill, eu te imploro! - Repetiu, pela sei lá qual vez, havia parado de contar no momento que passou da vigésima.

- Eu já disse que não, Pyronica! - Esbravejei em uma tamanha impaciência compreensível para o momento, afinal, estava sendo "agraciado" com a insistência de uma demônio que não saia do meu encalço.

Acabei por cessar os meus passos, girando nos calcanhares em tempo de visualizar a de corte channel fazer o mesmo. Por uma fração de segundos, a vi recuar com o olhar assustado, provável que temerosa sobre a minha parada repentina, que sucedeu à minha explosão de paciência esgotada.

Eu voltava para o meu quarto, afim de comemorar com a minha mulher após minha triunfal conquista bem sucedida, quando, assim que eu passei pela entrada/saída dos calabouços, Pyronica abordou-me para entregar o relatório do dia, onde só - como eu já imaginava - havia boas notícias. Para mim, no caso.

O real problema é que, mesmo após isso, a mulher continuou a me seguir pelos longos corredores da fortaleza, insistindo para que eu "acordasse" e percebesse que me unir com uma humana era tolice. Se não uma burrice, ela falou, um absurdo tremendo.

- Aquela humana me pertence, não será você, e nem ninguém, que me fará pensar o contrário. - A firmeza das minhas palavras eram visíveis até para os que pouco enxergam, uma veracidade capaz de convencer até um dos mais desconfiados. Eu sequer precisei fazer esforço para parecer tão verdade, fora natural, fora verdadeiro. 

- Tudo bem, ela te pertence, mas não quer dizer que você precisa pertencer à ela! - Apontou em um tom deveras sugestivo, falando de forma indireta o que eu poderia fazer. Era estúpido como ela tentava me convencer à desistir disso. - Você pode ser livre! Sair com quem quiser...

A petulância que ela teve coragem de mostrar a seguir fora quase um ato de suicídio; ela aproximou-se de mim, tentando à custo juntar nossos corpos, começando por uma unha pontuda que perambulou pelo meu peito, uma tentativa de sedução da qual eu já bem conhecia. 

- Se envolver com quem você quiser... - A voz, agora baixa e com uma leve rouquidão, assumia um forte teor erótico. Típico de uma mera meretriz. Soltei uma lufada de ar arrastada, exausto de um diálogo fútil que mal havia começado. Eu sabia onde ela queria chegar com aquele joguinho tosco.

- A questão, Pyronica, é que eu quero me envolver com a humana. - Rebati em uma voz abafada, já que eu tentava, com dificuldade, não me exaltar e acabar perdendo preciosos minutos onde eu poderia aproveitar com a Estrelinha. - Agora vá, ajude os outros no alastramento mundial do meu reino. - Ditei, insinuando dar um ponto final na discussão desnecessária e continuar o meu trajeto.

- Não mude de assunto, Bill Cipher! - Eu poderia listar inúmeros fatos do porquê essa elevação de voz fora uma das piores atitudes que ela poderia tomar em sua vida. Fora um estopim. Minhas pálpebras foram fechando a medida que eu inalava mais e mais oxigênio.

Toda a minha raiva era externada na famigerada mudança de cor. Eu conhecia bem à mim mesmo, e já sabia que a pigmentação avermelhada já tomava conta da raiz dos meus fios, como também manchava o amarelo dos meus olhos. Ou melhor, do meu olho.

- Isto é uma ordem, Pyronica! - O meu timbre grave reverberou pelo corredor, ricocheteando nas paredes e voltando com potência aos nossos ouvidos. Minha voz já era modificada em um mesclar de vozes variadas. - Eu não lhe devo satisfações, sua vadia imunda! - Se fosse preciso, eu não pouparia ofensas baixas, muito menos tentaria conter minha força, se fosse para fazê-la me deixar em paz. - Agora vá, suma da minha frente antes que eu dê um fim nessa sua existência miserável!

Não demorou nem dois minutos para cumprir com meus mandatos, todos temiam as minhas ameaças, pois sabiam que não eram simples blefes fajutos que só serviam para impor medo. Eram verdades concretas, as quais os céticos já tiveram o desprazer de experimentar. Pyronica simplesmente partiu, sem qualquer retruco, deixando apenas um olhar incrédulo e apavorado.

Just a dreamOnde histórias criam vida. Descubra agora