Capítulo 45

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Meus olhos vasculharam ao redor mais uma vez, certificando-me de que não havia algum lacaio de Bill para me ver perambular por aquelas áreas restritas. Tendo o caminho livre, adentrei na penumbra do calabouço, descendo degrau por degrau daquela pequena escadaria envelhecida.

Chegando na planificação do andar "subsolo", deparei com um estreito corredor de extenso percurso, repleto de celas em ambos os lado. Tijolos de pedra e metal, os materiais cinzentos que compõe as prisões resultava em ainda mais escuridão. 

Atrás de cada grade, dentro dos minúsculos cubículos imundos e gélidos, residia inúmeras espécies e raças, os prisioneiros do palácio. Pessoas inocentes presas parar o bel prazer de Bill Cipher.

Meus pés deram início à uma corrida afoita, não havia tempo para ser silenciosa, muito menos para ter cuidado, eu preciso encontra-los antes do retorno de nosso atual ditador, consequentemente, antes de eu ser encontrada por este.

Durante todo o meu percurso apressado, intercalei o meu olhar entre a esquerda e direita, em busca da cela onde algum deles poderia estar. Umas vinte celas depois, enfim, encontrei rostos conhecidos. Meu irmão gêmeo, Dipper, estava sentado no chão empoeirado, seu rosto e algumas partes do seu corpo machucados e sujos de sangue.

- Dipper! - Chamei, vendo-o erguer a cabeça ao ter sua atenção atraída para mim. Nos olhos a visível surpresa, só não sabia se era por conta da minha aparência, ou pela minha simples aparição após meses. - Dipper, é você mesmo! - Tive de confirmar para mim mesma, era inacreditável tê-lo ali, diante de mim e... E vivo.

- Mabel? - Apoiou-se em suas mãos, usando-as junto dos joelhos e depois pés, para poder se levantar com uma extrema dificuldade. Aparentava estar fraco. - O que faz aqui? - Perguntou sem emoção, talvez até um pouco rude, deixando explícita a sua insatisfação em me ver. O meu sorriso de alegria foi embora tão rápido quanto veio.

- Di-Dipper, e-e-eu não queria, e-eu não traí vocês... - Embolei-me nas palavras, sentindo os meus olhos já marejados. O mártir tornou-se um companheiro bem presente na minha vida, tinha plena consciência que a culpa era minha, acusei-me tantas vezes de traição; mas ouvir tais palavras acusatórias saindo da boca de com quem eu dividi um ventre, era como levar uma facada ungida em álcool, sal e ácido. - E-Eu também fui enganada! E-El-Ele também mentiu pa-para mim!

- Foi enganada? - Repetiu com um tamanho escárnio e descaso. - Mabel, não é você quem está na droga de uma cela há meses! - Bradou, nitidamente irritado. - Não é você quem está sendo submetida à torturas diárias! - Continuou, me apontando o dedo indicador; um ato típico de acusação. - Não é você, quem está vendo as pessoas que você ama sofrerem bem na sua frente! Enquanto nós temos de dormir no chão, cobertos por sangue, você está vivendo como rainha em um quarto de luxo, dormindo e se entregando para um demônio noite após noite!

Estagnei ante as suas palavras, a incredulidade não era devido a dúvida, não mesmo, a veracidade de cada palavra era irrefutável. Tudo o que ele disse era a mais trágica verdade, comparar nossas situações chegava a ser ridículo, tamanha era a diferença. 

Eu estava incrédula pelo fato do meu irmão falar cada palavrinha com um ódio que eu jamais imaginei sentir em falas direcionadas à mim. Fora como verdadeiros tapas que, com toda a certeza, deixariam vermelhões no meu rosto, ou melhor, na minha alma.

Encarei a face que era tão igual à minha, com a diferença dos traços mais másculos e firmes; os olhos castanhos, idênticos aos meus não só na cor, mas no brilho marejado também. A pele da bochecha bem avermelhada, resultado da raiva em excesso que sentia no momento.

Como se isso não bastasse, meu subconsciente mandou-me olhar ao redor, e assim eu fiz, mas eu me arrependi disto, e como me arrependi. Minha visão capturou as imagens decadentes dos meus conhecidos e amigos; Tivô Stan desacordado no canto de sua cela, meio deitado, meio sentado, as costas apoiadas na parede, a posição desengonçada e nada favorável para um sono confortável, ou até mesmo para sua coluna.

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