Capítulo 41

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- DESGRA- - Uma voz gritava ao longe, tornando-se quase um com o zumbido agudo que irritava os meus tímpanos. - SOLTE EL- - Outra vez. As frases entrecortadas, a voz familiar, eu estava incapaz de diferir o que era real ou não. - O QUE VOCÊ FEZ C- - Forcei minhas pálpebras a abrirem, em uma tentativa sofrida de abrir os olhos, falhando miseravelmente. 

O breu no qual minha mente emergiu era espaço para perambular indagações sem respostas e, se caso as tivesse, poderia me fazer querer nunca ter as descoberto; onde estou? O que aconteceu? Foi tudo um sonho, ou real?

Meu corpo balançava de um lado à outro, um sacolejar desritmado que apenas intensificava a minha tontura. Perecia estar sendo carregada, de um modo desengonçado e nada cuidadoso, como era bem perceptível. 

Minha consciência era, aos poucos, recuperada, os sons se tornavam mais fáceis de serem identificados, os cheiros eram mais conhecidos, mas eu, de fato, despertei quando fui arremessada contra uma superfície fria, como um mero saco de lixo. 

Dor. Foi repente quando minha mente voltou-se total para esse sentimento, minha cabeça latejava e meu cérebro parecia ser esmagado por um caminhão.

Lentamente, os comandos enviados pelo meu sistema nervoso iam sendo obedecidos, começando pelo necessitado abrir de olhos. Enfim libertei-me do inacabável escuro, analisando com cautela e letargia ao meu redor; o ambiente era pouco iluminado, tinha um cheiro fétido de mofo e poeira, além de uma temperatura baixa.

- PACÍFICA! - O chamado pelo meu nome fora alto, assustando-me a princípio, mas logo virou portador da minha atenção. Essa voz, ela me é familiar, é a voz do Dipper! - PACÍFICA, ACORDA!

As dificuldades eram presentes, dores por todo o corpo, meus músculos contraídos e irritadiços, mas não suficiente para me impedir de encontrar os olhos castanhos. Esforço ali e aqui, usando as mãos como apoio, e eu já tinha o tronco erguido para poder buscar o seu rosto.

- Di-Dipper... - Pude, enfim, encarar aquele par de olhos cor de madeira de pinheiro, que tanto me encantavam. Minha voz estava mais rouca do que eu imaginei que estaria. - Dipper! - Movida por impulso, ergui-me cambaleante, correndo, aos tropeços, para perto da grade que nos separava. - Dipper, você está bem?!

A essa altura minha consciência já estava recuperada por inteiro, as lembranças haviam retornado e, infelizmente, as respostas para as minhas perguntas encontradas.

O garoto imitou a minha ação, indo para próximo das barras de ferro da sua cela, agarrando duas delas entre suas mãos. 

- Eu que te pergunto! - Bradou, seu tom nada amistoso, como eu imaginei que estaria, estava mais para bravo, irritado até. - O que está fazendo aqui?! Eu falei para você fugir da cidade! - Recolhi os meus ombros, encolhendo-me em uma tentativa inútil de esconder tanto minha vergonha, quanto minha chateação.

Em meio à um apocalipse, com monstros e mais monstros perambulando pela cidade, eu fui em sua busca, e a única coisa que ele pensa é me repreender por não ter cumprido aquela promessa estúpida?!

Eu não sabia dizer qual era maior, a minha vontade de chorar, ou a de gritar com esse idiota que anseio namorar.

- EU JAMAIS IRIA FUGIR E TE DEIXAR PARA MORRER! - Exclamei em pleno os pulmões, sentindo minha garganta arranhar pela falta de líquido na quantia certa nos últimos dois ou três dias. Já me perdia no tempo. - Eu não poderia, eu não conseguiria te deixar, Dipper, eu te amo, seu garoto idiota, não percebe que é impossível te deixar para trás?! 

Lágrimas teimosas insistiam em descer rolando pelas minhas bochechas coradas. 

- Pacífica... Eu... - Os olhos arregalados demonstravam a sua surpresa, mas o rosto avermelhado mostravam a sua vergonha. - Me desculpa. - Pediu, cabisbaixo, olhando fixamente para as fendas entre um tijolo e outro do chão. - Eu apenas não queria te envolver nessa bagunça.

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