Capítulo 47

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O zumbido que ensurdecia os meus ouvidos não eram tão mais incômodos que as palavras que se repetiam e repetiam, a voz de Stanford, ecoando em minha cabeça, lembrando-me a cada um segundo de que a culpa era minha. Só minha. A culpa era inteiramente minha. A destruição chega para tudo o que eu tocar.

Sentia como se minha mente estivesse para explodir, o baque ensurdecedor do meu coração contra minhas costelas era algo na qual eu acharia graça, se não fosse por um motivo tão odioso. Levantei-me em um solavanco, puxando o senhor de idade pelas correntes de energia azul.

- Agradeço pelo seu esclarecimento, mas já está na hora de você voltar para a sua cela. - Mal dei tempo para processar as minhas palavras, pois já o arrastava, em passadas duras e pesadas, para fora do escritório. 

Sequer havia percebido, mas horas passaram-se, o tempo correu mais rápido que o normal, ou a nossa conversa durara mais que o previsto.

Rapidamente eu descia os poucos degraus. Sim, eu poderia ter nos teletransportado, de fato seria deveras mais prático e rápido, no entanto, não era praticidade que eu almejava. Presenciei o cientista tropeçar nos próprios pés durante todo o percurso, mas foi no último degrau que eu tive o vislumbre de sua queda; Stanford espatifou-se no chão, e isso não me impediu de continuar caminhando, o arrasando pelo piso sujo.

Era algo esdrúxulo, eu sei, poderia fazê-lo sofrer mais do que isso se quisesse, mas cada pequena dor, cada pequena desgraça sua, já era como um agraciar encantador.

Chegando frente à sua cela, ergui-o pelo sobretudo surrado e não mais impecável, para então jogar o seu corpo dentro da cela, antes de tracafea-la novamente. 

- O que você fez com ele, seu maldito?! - Berrou o garoto Dipper, com a sua voz irritante e enjoativa, causando-me mais latejar na cabeça.

- Calado! - Esbravejei, minha irritação e instabilidade era perceptível para qualquer um, mesmo se eu não o olhasse diretamente. - Eu não fiz nada com esse velho, mas se você continuar com essa sua petulância, tratarei de fazer com a sua namoradinha o que eu não fiz com ele!

O vi calar-se de imediato, a Northwest era o seu atual ponto fraco, e não era necessário ser um gênio para perceber o quão vulnerável e submisso ele se tornava para proteger a sua querida amada.

Caminhei em direção a saída do calabouço, a minha mente latejando em fisgadas, uma dor insuportável que consumia toda a minha paciência. Argh, isso doía mais do que ter minha cabeça acertada contra uma pedra muitas e muitas vezes seguidas, e acredite, falo com tanta certeza por experiência própria.

Não me restava dúvidas que a minha sanidade havia ido-se para o espaço, ou que a minha ira estava beirando um colapso de descontrole, sendo exibido através da transição de cor dos meus fios; o amarelo tornando-se vermelho rubi.

Minha pretensão era voltar para os meus aposentos, mas eu não queria encarar a Estrelinha nos olhos. Não agora, neste exato momento. Não tendo plena consciência do que eu fiz. Por isso eu mudei a minha rota, traçando um novo trajeto mental com destino para as portas da fortaleza.

Já não aguentava mais ouvir aquilo, afinal, quem era o desgraçado que ousava rir de mim?! Haha, se eu o encontro, abandonaria essas risadas para dar lugar às súplicas de piedade. E essas vozes irritantes?! Minha cabeça doía. Elas repetiam; a culpa é sua. A culpa é minha. Não, a culpa não é minha. Eu amo a minha Estrela Cadente, jamais iria mata-la ou sequer fazer algum mal. Mas você já bateu nela. Mas não foi por querer, fora um ato inconsciente! Isso não justifica. Não importa, matar ela é algo fora de cogitação! A culpa é do Ângelus. Oh, sim! Ele e aquele coraçãozinho maldito, com aquela ridícula pureza intocável. 

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