Prólogo.

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Anos atrás.

Layla.

Depois de muito tempo na loja eu saí de lá com o vestido que tinha gostado desde o início, ele é lindo de renda em um tom meio coral sobre um tecido do mesmo tom, as mangas compridas começam mais justas e vão alargando até o punho, ele fica alguns dedos acima dos joelhos, tem um decote bonito, mas o que me fez ficar em dúvida na hora da compra foram dois cortes laterais na cintura que deixam uma faixa de pele a mostra. Não mostrava tanto, mas dava pra ver algumas gordurinhas, estou comprando o vestido para ir em uma festa do trabalho de Paul meu namorado e não quero envergonha-lo sendo a gorda mal vestida, mas a vendedora insistiu falando que estava lindo e eu deveria valorizar meu corpo e minhas curvas.

Eu sou gorda desde que me lembro, cresci ouvindo piadinhas, risinhos, olhares de pena ou desprezo, sempre foi muito difícil e talvez por eu tenha crescido com alguns, vários na verdade traumas e baixa autoestima.

Vou me arrumar para ficar o mais apresentada possível, tomei banho sem molhar meus cabelos, os lavei hoje cedo e não precisa lavar novamente, saio do banho, me seco, fico enrolada em uma toalha, faço uma maquiagem simples, apenas uma pele iluminada, uma sombra brilhante e um batom vermelho vivo, não sou muito boa em fazer maquiagem e pra falar a verdade, nem gosto tanto, por mim nem usava, apenas em ocasiões muito, muito especiais, mas é dia de festa, então quero ficar mais arrumada. Solto meus cabelos apenas amassando para arrumar os cachos e passar reparador nas pontas, meus cabelos são cacheados e escuros, eles vão até o meio das minhas costas e seus cachos são meio abertos, os da Rachel minha irmã são mais fechados.

Vou até o closet me vestir, coloco um sutiã vermelho de renda e uma calcinha fio dental do mesmo material, coloquei o vestido fechando o zíper com certa dificuldade por ser difícil de alcançar nas costas, calcei uma sandália nude de salto alto ela tem uma faixa no tornozelo e fecha na parte de trás com um zíper, passei a maior vergonha no dia que eu fui comprar porque ela quase não fecha no meu tornozelo grosso. Me olhei no espelho mais uma vez vendo se estava tudo em ordem, sorri me sentindo bonita, tirei até uma foto para enviar para a minha irmã.

Ouvi batidas na porta e sai correndo para atender, ele estava lindo, vestindo um terno escuro, camisa verde clara e gravata escura, dei passagem a ele que entrou.

- Você demora a se aprontar? – Perguntou indo até o sofá. – A recepção começa em pouco tempo.

- Não, estou pronta. – Falei fechando a porta. – Só preciso pegar a minha bolsa e podemos ir.

- Você vai assim? – Me virei o olhando.

- Por que? – Senti meu estômago gelar.

- Você ainda pergunta? – Me olhou e eu podia ver o julgamento em seus olhos. – Já é ruim o suficiente você ser gorda, ainda vai usar um vestido que fica mostrando as banhas? Nem pra colocar uma cinta.

- Paul eu sou assim. – Falei com a voz em fio. – Uma cinta não vai mudar o fato de eu ser gorda.

- Infelizmente. – Ele bufou. – Sabe eu achei que por ser médica você fosse se cuidar mais e emagrecer, mas parece estar cada vez pior. – Ele vivia dizendo que eu deveria emagrecer, parar de comer tanto e fazer exercícios. – Ai eu poderia sair com você sem passar vergonha. 

- Eu sou saudável e você sabe disso. – Gritei sentindo as lágrimas querendo descer, fazendo meus olhos arderem.

- Mas é gorda, você não vê que seria muito mais bonita se emagrecesse?

- Por que está comigo Paul? – Perguntei usando todo o meu auto controle para não chorar.

- As vezes eu me faço a mesma pergunta. – Ele me olha com desdém. – Certamente eu poderia estar com alguém melhor. – Falou se a aproximando.

- Sai do meu apartamento, sai da minha vida. – Gritei.

- Você está terminando comigo? Você? – Gargalhou.

Sua risada de deboche foi demais pra mim, soltei minha mão em um tapa forte no seu rosto e o único motivo para eu não socar o seu rosto foi não querer prejudicar meu instrumento de trabalho. Ele me olhou perplexo levando a mão até o local que eu bati.

- Quero que você saiba agora. – Falei entre dentes.

- Você nunca vai arrumar outro homem como eu. – Ele disse.

- Graças a Deus. – Falei.

- Sua gorda ridícula, acha mesmo que alguém homem vai lhe querer, assim? – Cuspiu as palavras. – Pelo menos não um que seja minimamente apresentável. – Dei outro tapa nele.

- Eu prefiro ficar sozinha do que com um homem nojento como você. – Falei com ódio, não contendo mais as lágrimas. – Nem bom de cama você é. – Foi a vez dele me dar um tapa.

- Você é patética Layla. – Se virou e saiu.

Fiquei no meio da sala chorando parada, sem reação, até que me arrastei até o sofá onde continuei chorando e sentindo pena de mim mesma, até que resolvi fazer algo útil e me arrumei para ir até o hospital onde eu era residente. Aquela foi a última vez que eu o vi, mas as coisas que ele me disse, o jeito que me olhava com nojo e desprezo ficou marcados da minha memória, não voltei a me envolver sério com ninguém desde então e minha alto estima que já era ruim depois de anos de preconceito e homens que só me queriam escondido, só ficou pior.

Eu sei que as únicas coisas bonitas sobre mim são meus olhos verdes e meus cabelos, apesar de não me achar tão feia, as pessoas dizem que eu sou bonita, mas eu simplesmente não consigo acreditar, nunca sei quando é verdade ou quando é apenas uma gentileza. Nunca mais eu consegui ficar nua na frente de um homem. Depois de Paul foquei em concluir a minha residência, fazer todos os cursos e estudos que eu podia, normalmente eu só ia para casa quando me obrigavam por ter ficado tempo demais acordada, me tornei muito boa no meu trabalho é o que eu amo fazer, o que me dá alegria.

Quando surgiu uma vaga de médica para trabalhar na ONE eu não pensei duas vezes em me inscrever para ela, sou fascinada pelos Nova Espécies desde que o primeiro deles apareceu na mídia. Fiquei muito feliz quando fui aceita para trabalhar com eles, em poucos meses já não me imaginava trabalhando em outro lugar, todos são educados e sinceros por aqui. 

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Olha quem chegou. Ia esperar terminar para postar, mas quem disse que consegui segurar.

Espero que gostem. 

Vou postar 3 capítulos por semana.

Até a próxima.

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