capítulo um

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primeiro capítulo, pessoal! se não leram as notas voltem e leiam, por favor. tô avisando hein, é, você mesmo, tô falando com você que não leu. volte e leia as notas, por favor. tô falando pelo bem de vocês. esse livro contém gatilhos. leiam as notas ou eu puxo o pé de vocês de noite.

Inspire.

Expire.

Eram as palavras que se repetiam em minha mente enquanto eu tentava controlar o pânico que me consumia. Inspire. Senti meu peito inflar no tempo que o ar invadia meus pulmões, esperando que a oxigenação em meu corpo pudesse acalmar a minha mente. Expire. O alívio me atingiu quando deixei que o ar escapasse por minha boca, mas a sensação de borboletas no estômago estava longe de desaparecer.

Entretanto, aquelas borboletas se pareciam mais com um buraco negro naquele momento, devorando meu interior pouco a pouco, fazendo as palmas das minhas mãos suarem e meu coração disparar.

— Elaine, você ainda está aí?

A voz da minha melhor amiga me fez despertar dos meus devaneios. Eu sabia que ela estava provavelmente ocupada em sua butique, fazendo vestidos pomposos para ricos e famosos, e odiava atrapalhá-la, contudo, ela era a única para quem eu podia recorrer em momentos de desespero.

— Sim... Sim. — falei, colocando o celular naquela belíssima pia de mármore marrom com detalhes de ouro, que provavelmente valia mais que toda a minha casa, para poder jogar um pouco de água no rosto e me acalmar.

— Elaine, precisa me dizer o que está acontecendo ou eu não posso ajudar. — escutei a voz da minha melhor amiga do outro lado do telefone.

Certo, certo... O que estava acontecendo. Tinha que dizer o que estava acontecendo. Mas nem eu sabia.

Tudo começou na minha primeira festa de exposição de nova coleção na galeira de arte que eu trabalhava. Basicamente, a festa consistia em convidar possíveis compradores para a nova coleção que, diferente das obras fixas, ficava exposta por seis meses. No fim daquele tempo exposição, aqueles que compraram as obras no dia da festa poderiam levá-las para casa. No meu caso, era a minha primeira vez trabalhando numa festa, desde quando eu fora contratada após passar três anos fazendo bicos depois de me graduar em artes, e estava uma pilha de nervos. Certamente meu chefe da galeria ser um homem desprezível não ajudava.

Eu estava quase que enlouquecendo tentando recepcionar as pessoas, quando ele apareceu. A primeira coisa que notei foi o quão alto ele era. Somado a sua postura confiante e seu andar decidido, não tinha como ele não se destacar na multidão, chamando a atenção de todos devido a sua presença marcante. Usava uma blusa social de botão preta, com um paletó e calças num tom bege acizentado, ambos feito sob medida, além de um lenço da cor da blusa decorando o bolso do paletó. Em seu pulso, um relógio Rolex exprimia pompa, e, mesmo de longe, eu podia sentir o cheiro atrativo do seu perfume importado.

Ele tinha cabelos longos, que chegavam até o seu ombro. Cabelos escuros, como carvão. Uma barba rala crescia em seu maxilar definido, e seu queixo era marcado por uma covinha. Apesar de não olhar para ninguém específico, seus lábios finos se contorciam num pequeno sorriso. Porém, o que mais chamara minha atenção foram seus olhos. Intensas esferas num tom preto que pareceram atravessar a minha alma no minuto em que nos olhamos.

Ele não disse nada para mim a noite toda. Falou com a minha colega de trabalho sobre quais obras queria e desapareceu na multidão. Durante o resto da festa, o esqueci. Até a hora em que saí da galeria, após ouvir meu chefe gritar sobre como eu precisava fechar tudo. Ele estava lá. Encostado no seu carro alemão, uma Mercedes-Benz preta, olhando diretamente para mim.

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