Eu nunca visitara Paris.
Na verdade, eu nunca tinha saído dos Estados Unidos sem Nikolai antes. Como eu nunca tive dinheiro para esse tipo de coisa, a maioria das viagens que eu já fizera durante toda a minha vida aconteceram no ano em que namorei Nikolai. Logo nas primeiras semanas de namoro, ele me convidou para passar um final de semana em Nova York. Depois, ao longo do ano, visitamos mais alguns lugares, como as Ruínas de Pedra, na Jordânia, com sua beleza única esculpida inteiramente em arenito; certa vez, fomos ao Rio de Janeiro, no Brasil, porque, segundo Nikolai, ele sempre quis ver o Cristo Redentor de perto; e, no meu aniversário no ano anterior, ele levara eu e Naira para visitar o Taj Mahal, na Índia.
Contudo, agora, um ano depois, faltando poucos dias para o meu aniversário, tudo mudara. Minha festa de noivado foi atacada... Por mafiosos. Mafiosos inimigos, do outro lado do país, que queriam tomar para si a máfia da família do meu noivo. A máfia dos Tarasova. Aqueles mesmos Tarasova que eu tinha conhecido anos antes, que eram meus amigos e... Bem, no caso de Dimitri, bem mais que amigos. Todos eles envolvidos com uma máfia centenária da família, passada de geração em geração e agora, de alguma forma, conseguira me envolver no meio. Me envolver no meio de uma guerra.
Talvez eu devesse colocar na minha lista de características que eu procurava num homem "ser criminoso" já que aparentemente eu só atraía homens da máfia.
Era ainda difícil de processar. Henry, aquele rapaz divertido e forte que me acolhera como uma irmã mais nova, levara cinco tiros na perna e perdera o namorado numa guerra de máfias. Kessie, a gêmea divertida e gente boa que iluminava a vida de todas, levava uma arma escondida em sua coxa. Nikolai, meu noivo, a pessoa que eu mais amava e confiava no mundo... simplesmente escondera aquilo de mim. Escondera seu passado, e tudo que fizera contra seus irmãos. E, Dimitri, meu primeiro amor, terminou nosso relacionamento anos atrás para me proteger, e ainda insistira para que o irmão mais velho me contasse a verdade quando ficamos noivos. Mafiosos. Todos eles. Com sangue nas mãos e cercados de guerra.
Mas isso não deveria mudar a forma como eu os via, deveria? Não, ser parte da máfia... Não mudava quem eles eram, certo? Não deveria mudar... Não podia mudar.
Eles ainda eram os mesmos Henry, Kessie, Dimitri e Nikolai... certo?
Eu teria que descobrir. Descobrir se ainda confiava neles. Descobrir até que ponto... Até que ponto a máfia mudaria as coisas.
Mas eu realmente não queria que nada mudasse.
Eu estava acordada, mas sonolenta, quando aterrissamos em Paris. O chacoalhar e o barulho do jatinho particular ao pousar em terra arrancou qualquer sono do meu corpo. Não que eu tivesse coragem de dormir, sabendo dos pesadelos que esperavam em meu subconsciente. Olhei pela janelinha ao meu lado, apenas para ver uma grande pista de pouso, limpa e organizada, mas completamente vazia, com exceção de uma frota gigantesca dos mais variados tipos de avião.
— Essa pista é privativa. — explicou Dimitri, pondo-se de pé num suspiro. — E minha madrasta é obcecada por tudo que voa.
Não ousei responder, ou me levantar. Nem sabia se possuía forças para isso. Ou vontade. Eu podia até ter trocado de roupa na noite anterior, mas a falta de banho estava me incomodando até demais. Suspeitava que fosse precisar de uns cinco banhos para tirar aquela sensação de sangue da minha pele. O sangue da senhora Shopperau, principalmente. A mulher que levara um tiro na minha cabeça diante de mim. Nunca esqueceria dos olhos assustados e arregalados em seu corpo gélido; não tinha dúvidas de que eles se uniriam a Michael para assombrar meus pesadelos.
Esperei até que tudo e todos tivessem descido do avião para me levantar. Mas Dimitri não me apressou. Ele ficou esperando no carro com nossas malas, no assento ao lado do motorista, até eu ir até ele. E eu fui. Não queria atrapalhar seus compromissos, ou atrasá-lo. Então, mesmo totalmente exaurida de energias, caminhei apressadamente até aquele carro preto e me sentei no banco de trás. Dimitri me lançou um olhar rápido pelo retrovisor, como se quisesse garantir que eu não tinha me tornado uma morta-viva, e ordenou que o motorista começasse a dirigir. Mas não fomos só nós que demos partida; quatro motos, duas na frente e duas atrás de nós, nos seguiram. Para proteção, imaginei.
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Beautiful Stranger
RomansNa sua juventude, durante as férias de verão, Elaine Róson e Dimitri Tarasova se apaixonaram perdidamente um pelo outro. Porém, os trágicos caminhos do destino separaram os dois por oito anos, até que eles se reencontram para o casamento de Elaine c...