capítulo quarenta e dois

70 12 20
                                    

A primeira coisa em que pensei foi em minha mãe.

Coloquei rapidamente a minha pintura de volta no compartimento do avião e olhei para o corredor, com olhos arregalados e meu coração batendo em descompasso. Não, não pode ser... Como... ele entrara ali? Como ficara sabendo que esse era o nosso avião? Ou como ele sequer sabia que viajaríamos de volta para São Francisco naquele dia? Milhões de perguntas rodeavam a minha mente enquanto eu tentava manter a calma. E falhava miseravelmente todas às vezes. O representante do Comerciante de Almas — do meu pai — estando ali, comigo, minha mãe, Dimitri e todos os outros, e controlando o avião... Era, de fato, um pesadelo.

No momento em que olhei para frente, eu vi Dimitri e os outros disparando para a cabine do piloto. Quando nossos olhares se encontraram, eu não vi nada além de pura fúria flamejando em seus olhos azuis como o fogo na lareira do dia anterior. Eu entendia o motivo. Invadiram seu avião, seu próprio avião, no meio do céu, com cerca de quinze homens e mulheres que trabalhavam para ele, além de mim e da minha mãe, pensando que pelo menos ali ele teria um pouco de paz e segurança. Mas aquilo foi brutalmente arrancado dele no instante em que Grey pusera os pés no jatinho.

Enquanto Dimitri e os outros rodearam a cabine, eu corri para uma das mochilas do líder da máfia Tarasova, sabendo muito bem o que encontraria ali. Uma arma. Não podia ser um fardo para nenhum deles, precisava proteger a mim e à minha mãe. Então, mesmo que eu não fizesse ideia de como usá-la, coloquei uma daquelas armas — uma pistola preta — no bolso e fui me sentar com a minha mãe, que estava com os olhos arregalados, vendo a cena.

— Apenas vamos ficar juntas. — sussurrei para ela, que assentiu em resposta.

— Sei que querem entrar na cabine do piloto e ver meu belo rostinho... — disse Grey, ainda pelo alto-falante. — Mas vão odiar descobrir que está trancada.

— Então é assim que vai ser, Grey? — respondeu Dimitri, sua voz carregada de amargura e arrogância. — Só estou avisando que cada minuto em que essa porta continua trancada, é mais um soco que lhe darei nesse "belo rostinho". Espero que esteja pronto para as cirurgias de reconstrução facial que terá que fazer quando eu acabar com você. Isso se eu deixar você sair vivo.

Uma risada de escárnio ecoou pelo auto-falante.

— Você realmente acredita que está em posição de fazer ameaças?

Não, pensei, assustada, ele não está.

— Esse é a droga do meu avião, eu faço o que quiser. — rosnou Dimitri.

— Não mais, meu caro. Agora sou eu quem controla seu destino. Estão interessados em saber para aonde vamos?

— Espero que seja a praia, você e sua cara pálida estão precisando de um bronzeado. — zombou Dimitri.

— Não, não é a praia. — disse Grey. — Mas haverá sim um mar. Um de sangue, claro.

Engoli seco. Dimitri pareceu fazer aquilo também quando lançou a mim e à minha mãe um olhar de relance. Como se quisesse garantir que estávamos bem. Contudo, apesar de estar com medo, não demonstrou.

— Eu odeio como vocês capangas do Comerciante de Almas falam em charadas e usam esses apelidos ridículos. Me diga, para fazer parte da máfia, vocês precisam fazer curso de criatividade?

— Você fala de nós, mas você e seu irmãozinho Henry são bem criativos quando se trata de torturas e interrogatórios. — rebateu o representante do meu pai. — Por acaso já contou para a bonequinha que está conosco no avião hoje todas as coisas que você fez? Falando nisso, olá, passarinho. Sua cabeça está melhor?

Beautiful StrangerOnde histórias criam vida. Descubra agora