Dimitri, Henry e Kessie se entreolharam, suas faces tomadas por um misto de raiva e preocupação.
— Notícias ruins, eu suponho. — disse a senhora Tarasova, num tom quase que indiferente. Já está acostumada, pensei.
— Se quisermos notícias boas, temos que garantir que a cabeça daquele verme esteja numa bandeja. — rosnou Henry, tomando um gole enfurecido da sua bebida.
— Do jeito que vocês falam, às vezes parece que até gostam da guerra. — disse Kessie, indignada.
— Você é tola se pensa que há outra forma de resolver isso. — rebateu Henry, fazendo a gêmea bater a palma da mão contra a mesa, produzindo um estrondo. Eu nunca a vira daquela forma.
— Eu não sou tola. — afirmou ela, e eu quase pensei que um sorriso pudesse ter se formado nos lábios de Celine. Quase. — Nós lutamos. Lutamos sim, e eu morreria lutando com garras e dentes se fosse preciso. Mas nós lutamos por um motivo. O mundo em que nós vivemos é totalmente fodido, mas nós não fazemos o que ele faz. E quando machucamos ou matamos é por um motivo. Não machucamos por machucar, nem matamos por matar. É por um motivo. Para proteger os nossos e impedir caras como ele. E no minuto em que esquecermos esse motivo, estaremos perdidos com um mar de cadáveres sem motivo ao nosso redor. Por pura ganância e sadismo. Vocês sabem o quão fácil é para pessoas como nós para nos perdemos dessa forma. Vocês sabem.
— Eu tenho certeza que nenhum de nós vai se tornar Aleksander, o Tarasova louco, irmã, mas obrigada pelo lembrete. — disse Dimitri, tentando acalmar os ânimos com um tom brincalhão. Henry respirou fundo. — Agora, por favor, podemos todos escutar o que Celine tem a dizer.
Todos se voltaram para a chefe de segurança.
— Para isso, teremos que ir para a sala à prova de som de Amara. — disse ela, e um sinal de preocupação passou de relance pelo olhar da senhora Tarasova.
— Muito bem. — falou ela, pondo-se de pé e engolindo seco. Todos acompanharam, a seguindo para fora da sala de jantar. Menos eu. Era uma reunião da máfia, não tinha porque eu pensar que seria envolvida. Então, continuei sentada, brincando com o almoço no meu prato por ter perdido a fome, até que escutei Dimitri me chamar:
— Vamos logo, Lis, não podemos esperar o dia todo. — disse ele, sorrindo gentilmente para mim. Tão gentil que, quando me toquei, já estava assentindo e indo em sua direção.
A sala à prova de som de Amara ficava do outro lado do corredor da porta que dava para o apartamento. Eu nunca tinha visto um cômodo tão bem decorado. Os tons de vermelho e preto se chocavam perfeitamente com os de cinza e branco. Logo diante da entrada, avistava-se um grande tapete circular e felpudo, na cor branca, um oposto do piso preto. No canto da sala, uma mesinha de vidro guardava garrafas vinho, além de algumas taças reluzentes que pareciam valer mais que um órgão humano.
Na parede onde estava a mesa, meu olhar artístico não demorou a perceber um gigantesco quadro de Amara sentada no centro com seus quatro filhos — Kessie e Henry, ainda recém-nascidos, estavam em seu colo; o bebê Dimitri estava no chão, se divertindo com um tubarão de pelúcia; enquanto Nikolai estava de pé, longe de todos e sério. A pintura fora feita no mesmo estilo que retratos de reis e rainhas do século XVIII.
Além disso, havia uma discreta, porém assustadora, porta de madeira no canto da sala. Não ousei perguntar aonde aquilo levava.
O local era retangular, o que proporcionava uma mesa de reuniões cumprida ali. Novamente, Dimitri sentou-se na cabeceira, com Henry e Kessie de cada lado. Me coloquei ao lado de Kessie, e Amara sentou-se na outra ponta da mesa. Celine, por sua vez, não se deu ao trabalho de sentar. Ela apenas se posicionou de pé entre Henry e uma cadeira vazia, e jogou um pacote marrom no meio da mesa.
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Beautiful Stranger
RomanceNa sua juventude, durante as férias de verão, Elaine Róson e Dimitri Tarasova se apaixonaram perdidamente um pelo outro. Porém, os trágicos caminhos do destino separaram os dois por oito anos, até que eles se reencontram para o casamento de Elaine c...