capítulo dois

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verão de 2013

Eu odiava usar biquínis.

Apesar de o meu corpo ser considerado o que era "dentro do padrão" eu odiava exibi-lo mesmo assim. Odiava como minhas coxas eram finas demais. Odiava as pequenas dobrinhas que surgiam na minha barriga quando eu me sentava. Odiava as estrias que existiam nos meios seios e nas minhas pernas. Odiava as minhas sardas, meus braços longos e o jeito que eu andava. Quase dezoito anos construindo aquelas inseguranças não desapareceriam tão facilmente.

E, mesmo assim, lá estava eu. Diante de uma pilha de biquínis. De todos os tipos, cores e estampas. Lilás, azul, verde, florido, malhado, todos cintura baixa, pois minha mãe dizia que a minha cintura e meus quadris eram as partes mais bonitas do meu corpo e que eu deveria exibi-las.

— Esses são todos os biquínis do tamanho P que eu tenho. — disse a gentil atendente da loja.

— São muitos, não é? — falei, soltando uma risada nervosa, mas acabei me lembrando da educação logo depois: — Obrigada.

— Você não tem que experimentar todos. — disse a minha mãe, vasculhando pela pilha de biquínis. Minha mãe era bem diferente de mim. Sofia Róson era uma musicista, que, apesar de nunca ter alcançado uma grande fama ou sucesso, abrira uma escola de música e fazia belíssimos recitais anuais com seus alunos. Quando era jovem, costumava cantar e tocar piano em bares luxuosos, atraindo o olhar de todos. Sofia, minha mãe, era uma mulher confiante, esbelta e amável. Eu poderia até ser muito parecida fisicamente com ela, mas nunca chegaria aos pés da mulher que ela era. — Que tal este? É bem sexy!

Dito isso, ela estendeu um biquíni branco cheio de flores, num modelo de cortininha. Era, de fato, lindíssimo. Mas eu sabia que nunca teria coragem de usar aquilo em público sem querer me enterrar na areia. Por outro lado, eu não queria ser rude, pois sabia que minha mãe estava se esforçando para me ajudar e me agradar. Então, o que disse foi:

— Posso experimentar. — assenti timidamente, indo ao provador.

— E então? — questionou a minha mãe minutos depois, do outro lado da cortina. — Como ficou?

Fiquei alguns segundos em silêncio pensando em como pôr em palavras o que estava sentido. Odiava ver meu corpo tão exposto no espelho, pois sabia das inúmeras falhas que eu veria lá.

— Ficou... — engoli seco. — coube. Eu acho. — murmurei em resposta. — Ou talvez eu pudesse usar um maio. Ou ficar no quarto...

— Elaine. — reclamou minha mãe, colocando a cabeça para dentro do provador. — Nós vamos para um hotel na beira da praia na Califórnia, não pode esperar que eu deixe você ficar no quarto o tempo todo. Precisa se divertir. Eu amo que eu e seu pai sejamos seus melhores amigos e eu sei que você ainda está se recuperando de tudo que aconteceu, mas em setembro você faz dezoito anos e começa a faculdade, precisa aprender a sair e se aventurar. Eu sei que consegue. Não está mais no meu útero sabia? Está no mundo agora. Devia ficar feliz que não somos pássaros, ou eu teria te abandonado depois do nascimento.

Não pude conter o riso.

— Não posso conhecer o mundo num maio?

— Está bem. — minha mãe assentiu de forma compreensiva. — Podemos comprar quantos maios quiser para passar os três meses lá, desde que prometa para mim que vai levar um biquíni. Só um. E você não vai precisar usar se não quiser.

— Obrigada, mãe. — sorri. — Você é a melhor.

O dia da viagem chegou mais rápido do que pensei. A única coisa que eu queria era ficar numa barraca numa área afastada da praia, aproveitando a vista, pintando e talvez tentando aprender um novo instrumento com a minha mãe. E mexendo no meu celular, obviamente. Eu estava obcecada pelo meu novo celular, um Motorola FlipOut, em que o teclado ficava escondido atrás da tela e aparecia com um simples deslizar. Era incrível.

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