capítulo dezoito

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kessie

— Coitado desse ursinho! O que foi que ele te fez para você tratar ele assim?

Celine Han, nossa chefe de segurança, me lançou um olhar mortífero ao escutar o meu comentário. O urso ao qual eu me referia era um bichinho de pelúcia que Celine colocara num canto da sala de armas para testar as nossas novas facas, importadas do leste europeu. Parada do outro lado da sala, Celine conseguia acertar a barriga do boneco sem nem precisar se esforçar. Eu já vira usas habilidades inúmeras vezes, mas nunca parava de me impressionar. Ela era, de fato, um achado.

— A existência dele me irrita. — disse Celine, atirando mais uma faca, mas dessa vez, atingindo a cabeça da pelúcia, sem quebrar o nosso contato visual; ou seja, acertara sem olhar.

— E a minha existência te irrita? — arqueei uma sobrancelha, fazendo aquela pergunta com um sorrisinho despontando em minha face.

Não havia um pingo de emoção na face de Celine quando ela me respondeu:

— Você sabe que não.

Observei enquanto Celine atravessava a sala para buscar as facas cravadas no ursinho de pelúcia, e as colocou de volta em sua roupa — ou melhor, uniforme de batalha. A chefe de segurança sempre se vestia como se estivesse indo para guerra, mas, naquela madrugada, ela, mais do que nunca, parecia pronta para uma luta. Ela estava armada da cabeça aos pés — tanto armas brancas, quanto armas vermelhas — e não fazia questão de esconder; vestida toda de preto, desde a blusa de gola alta, passando por suas calças legging, até suas botas de cano longo com saltos finos, e uma jaqueta de couro por cima. Seus cabelos longos e lisos de cor castanho-claro escorrendo por suas costas e suas unhas em formato de stiletto vermelhas como sangue, combinando com o batom em seus lábios, complementavam sua beleza feroz.

A sala de armas não era muito grande, mas tinha espaço suficiente para ter uma quantia generosa de armas. As paredes eram vermelhas todas elas eram cheias de prateleiras de madeira marrons onde ficavam as armas de fogo. Abaixo das prateleiras, haviam gavetas feitas no mesmo material, onde guardávamos as armas brancas. Havia, também, uma mesa engavetada no centro, contendo os variados objetos que poderiam ser usados numa luta. Todo o local possuía um aspecto antigo e arcaico — até porque ele existia desde que o primeiro Tarasova norte-americano construiu nossa mansão —, mas as armas eram das mais modernas e eficientes. Quando se tratava da nossa proteção, Dimitri, meu outro irmão, não poupava esforços. Ele gastava até o último centavo para garantir nossa segurança, desde as melhores armas, os melhores sistemas de segurança, e o melhores e mais leais homens. Celine os liderava, ela entendia de táticas de guerra tão bem quanto Dimitri.

Usando um modo grosseiro de falar, Dimitri era um guerreiro. Ele treinou pessoalmente com nosso pai praticamente desde que aprendeu a andar, e se enterrava em livros e mais livros sobre táticas, guerra e planejamento. Sem contar o treinamento físico. Eu era a que tinha a melhor mira, mas Dimitri era quem tinha menos medo de usar armas. Eu o vi atirando na cabeça de homens terríveis sem nem piscar. Sem contar sua habilidade em combate corpo a corpo. Tornando-o, assim, não só inteligente e ardiloso, bem como um soldado pronto para a luta. O único problema do meu irmão, era que ele pensava que tinha que carregar o mundo nas costas e assumir todas as responsabilidades, tanto conosco, quanto com os negócios. E aquilo o consumia. O medo de falhar, de não ser o suficiente, o consumia. Mas ele não nos deixava ajudar. "É a minha salvação, e a minha maldição" era o que ele sempre dizia.

Tolice.

Éramos uma equipe, uma família. Ele não precisava lidar com tudo sozinho. E não iria. Não naquela madrugada, pelo menos, quando eu estava literalmente vestida para matar. Um vestido de alcinha cinza-claro todo coberto por glitter, longo e justo no corpo, com as costas nuas e um grande decote na perna, deslizava pelo meu corpo até o chão, modelando e ressaltando minhas curvas. Meus cabelos crespos estavam presos no topo da minha cabeça, e uma maquiagem cintilante iluminava minhas feições — a tatuagem de punhal atrás da minha orelha aparecendo. O que não podia faltar, obviamente, era uma pequena flor decorando o meu cabelo. Para a ocasião, escolhi uma rosa branca. Isso porque esse tipo de flor estava associado a homenagens póstumas, e eu estava pronta para causar o funeral de alguém caso me olhassem de uma forma que eu não gostaria. Ou seja, simplesmente devastadora.

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