capítulo vinte e cinco

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só digo uma coisa: se preparem

verão de 2013

dimitri

Eu me lembrava muito bem da primeira vez em que tive que lutar. Nós estávamos protegendo um carregamento contra uma pequena gangue que estava saqueando nossos galpões. Meu pai bolara um plano que consistia em sequestrar um deles e exigir um encontro com o líder em troca do resgate. Mas, nesse encontro, o mataríamos. Eu e meus irmãos, os gêmeos, tínhamos apenas doze anos, e, por isso, estávamos cercados pelos nossos homens, para nossa proteção. Contudo, tínhamos subestimado as habilidades daquela gangue, e eles nos atacaram de surpresa. Eles pareciam estar ganhando, até que mais dos nossos homens chegaram e os mataram. Um por um.

Aquela gangue nunca agiu novamente.

Eu e meus irmãos nunca paramos de lutar. Nosso pai era rígido conosco, sempre foi, e nos treinou para sermos perfeitos. Ele me treinou para ser perfeito — mesmo que eu odiasse. Odiava a maneira como ele me tratava, odiava que ele me enxergasse como um mero sucessor. No entanto, querendo ou não, eu e meus irmãos fomos criados para assumir a máfia Tarasova. Fomos ensinados combate corpo a corpo, e como empunhar armas. Sem contar táticas de guerra, formas de manipulação e extração de informações.

E, mesmo assim, não havia treinamento no mundo todo que pudesse me preparar para aquela fatídica noite.

Havia um sorriso abobado no meu rosto quando desliguei a ligação com Elaine. Eu mal podia esperar para vê-la na manhã seguinte. Para segurá-la em meus braços, sentir seu cheiro, admirar seu sorriso... Era nisso que eu pensava quando deixei o quarto, em busca dos meus irmãos e de Aaron, que foram fazer um lanche da madrugada.

Contudo, quando saí do quarto, a casa estava silenciosa. Silenciosa demais. Normalmente, era possível escutar a voz de Kessie falando e rindo mesmo que ele estivesse a vários andares de distância. Mas não havia nada. Nem vozes, nem passos. Apenas os sons da noite, aqueles advindos dos animais notívagos e da brisa leve que balançava as árvores próximas. Se estivesse ali, meu pai diria que aquilo era algo a se estranhar. Quando se é um mafioso... era o que ele diria o silêncio é muito mais assustador que o barulho do disparo de uma bala.

— Henry? — os chamei, descendo as escadas lentamente. As luzes das lâmpadas na parede piscavam, tornando a atmosfera da nossa mansão mais assustadora do que o normal. — Kessie? Aaron?

Não recebi nenhuma resposta.

A maior parte da casa estava mergulhada na escuridão. Então, segui para o único cômodo em que vi as luzes acesas — a sala de estar menor. Eu podia ver a luminosidade atravessando a fresta da porta, e escutar o crepitar do fogo da lareira acesa, mas, além disso, nada. Estava tão silencioso que cheguei a imaginar que talvez fossem fantasmas ali na sala. Havia apenas uma faca preta no meu bolso, mas não supus que houvesse tanto alarde a pronto de precisar pegá-la. Então, tentando manter minha respiração tão silenciosa quanto o ambiente ao meu redor, eu terminei de descer as escadas e me aproximei da porta.

Foi quando eu escutei.

Once Upon A December, a música tocada repetidamente pela minha professora de dança de salão durante todas as aulas ao longo da vida. A melodia soava distante, lentamente tomando conta dos meus ouvidos. Aquilo não fazia nenhum sentido. Por que raios seja lá quem estivesse na sala de estar menor estaria escutando aquela música? Não poderia ser meus irmãos, eles estavam enjoados dela tanto quanto eu... Mas se não era eles ali... Quem era?

Milhões de perguntas sem resposta martelavam em minha mente quando pus a mão na maçaneta e empurrei a porta.

— Ora, ora, ora... Se não é Dimitri, o favorito dos Tarasova. Estávamos a sua espera.

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