capítulo vinte

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verão de 2013

— Elaine? Desmaiou aí dentro?

Já era a terceira vez que Dimitri me chamava e eu não respondia. Bem, se eu tivesse batendo na porta da minha namorada no horário combinado de ir para a praia e ninguém respondesse, eu também me preocuparia. Contudo, eu tinha uma explicação para isso. Dimitri me pegara de surpresa quando eu estava... Bem, eu estava experimentando o único biquíni que eu tinha quando ele bateu na porta pela primeira vez. Era a minha última semana em São Francisco e eu estava pensando que talvez, só talvez... Talvez eu pudesse usar aquele biquíni, em vez de um maio com shorts. Mas me arrependi no minuto em que coloquei a peça, e todas as minhas inseguranças começaram a me atingir com uma avalanche.

Então, ao escutar meu namorado, sai do banheiro do meu quarto de hotel às pressas e corri para colocar a primeira roupa que achei.

— Oi... Dimitri. — disse eu, forçando um sorriso ao abrir a porta. Ele entrou no quarto com as sobrancelhas franzidas, confuso.

— Está tendo alguma festa do pijama que eu não fui convidado? — indagou Dimitri, num tom brincalhão. Olhei para mim mesma e suspirei ao perceber que eu havia colocado minha camisola de cetim azul-claro com detalhes rendados na cor branca; como estava ao avesso quando a peguei sobre minha mala, eu nem tinha reparado no que era quando vesti. — Você vai assim ou...

— Não, não. — balancei a cabeça, tentando fixar aquele sorriso falso em meus lábios, o que não passou despercebido pelo jovem Tarasova. — Eu vou só trocar de roupa rapidinho.

— Meus instintos masculinos podem até estar errados, mas algo me diz que tem alguma coisa te incomodando. — comentou ele, arqueando uma sobrancelha.

— Não é nada, não se preocupe.

— Nada, han? — disse Dimitri, me lançando um olhar desconfiado. — Até o Pinóquio poderia mentir melhor do que isso.

Revirei os olhos. Eu sobreviver àquele dia, tentar agir normalmente e deixar para desabar de noite, quando estivesse sozinha.

— Eu estou falando sério, Dimitri. Não é nada. — tentei disfarçar com mais um sorriso. Dimitri, porém, caminhou até mim e delicadamente colocou suas mãos em meu rosto, me fazendo encará-lo. Ele sabia que seus intensos olhares oceânicos eram meu ponto fraco.

— Pode até ser um milagre, mas eu estou falando sério também, Elaine. — Dimitri sussurrou, como se elevar sua voz pudesse me partir em milhões de pedacinhos. — Pode me contar qualquer coisa. Até se tiver roubado um banco, eu não ligo, eu te ajudo a fugir do país. E vou junto, obviamente. — brincou ele, me fazendo rir fracamente. — Você quer falar comigo?

Engoli seco, fitando o chão. Se existia uma pessoa no mundo com quem eu conseguiria ser honesta, era Dimitri. Talvez... Talvez eu até pudesse falar com ele. Eu já tinha me aberto com ele antes, talvez pudesse fazer aquilo novamente. Mas sem olhá-lo nos olhos.

— Eu só... — suspirei. — Eu ia tentar usar um biquíni, mas não gostei muito do que vi.

— Mê dê seus olhos. — ordenou Dimitri, de repente, dando um passo para trás e estendendo a mão para mim, como se realmente esperasse que eu lhe entregasse meus olhos. — Anda, me dê seus olhos.

— O quê? — franzi as sobrancelhas, sem entender.

— Me dê seus olhos, Elaine.

— Você ficou louco? — falei, gargalhando. — Por que quer meus olhos, Dimitri?

Dimitri não respondeu, apenas colocou gentilmente os polegares sobre minhas pálpebras e começou a massageá-las.

Hum... parece que você está pronta.

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