Não precisei dizer nada quando voltei.
A mulher e Dimitri já me esperavam no carro, e no minuto em que entrei no banco de trás e fechei a porta atrás de mim, o olhar do líder da máfia Tarasova, através do retrovisor, se voltou para a expressão devastada em meu rosto. Ele soube. No instante em que viu o meu estado, Dimitri soube. "É ele?" foi o que disse. Mais uma afirmação do que uma pergunta. Soprei um "sim" em resposta, sem conseguir falar muito mais. Se tentasse, era provável que desabasse em lágrimas. Eu estava verdadeiramente me segurando para não chorar.
Dimitri me deu espaço sem nem eu ter que pedir, e eu fiquei quieta durante todo o trajeto de volta para a pequena instalação de quarto, cozinha e banheiro no aeroporto privado dos Tarasova ali em Miami. Ele me perguntou se eu estava pronta para falar, e eu assenti sem hesitar. Precisava colocar o que eu sentia de lado e priorizar o fim dessa guerra. O fim do Comerciante de Almas, do meu pai...
Fizemos mais uma videoconferência com os irmãos de Dimitri e Celine, e eu fiz um breve resumo de tudo que aconteceu, focando, principalmente, nas palavras que meu pai dissera. Nunca se sabe quando algo poderia ser mais útil do que o imaginado. De acordo com Dimitri, depois os três iriam repassar aquelas informações para os outros mais tarde, numa reunião durante a madrugada.
Eu estava fisicamente na sala quando Dimitri, Kessie, Henry e Celine começaram a discutir táticas de guerra e o que fazer em seguida, mas a minha mente estava em outro lugar. Fiquei encolhida numa poltrona, abraçando as minhas pernas, e me permitindo digerir aquelas emoções. Mas não chorar. Não. Eu não poderia me dar ao luxo de chorar, especialmente na frente deles. Mais do que nunca, eu precisava ser forte, ou me tornaria inútil, vulnerável. A última coisa que eu queria era ser inútil.
Meu pai era um homem mau. Se os papéis fossem reversos, e ele estivesse com uma pessoa que Dimitri amava, ele certamente não hesitaria em usá-la como refém.
Era, de fato, hora do almoço, mas não comi. Dimitri e os outros que estavam conosco fizeram alguns sanduíches na cozinha, mas não estava com fome. Nem com vontade de mastigar. Então, decidi sair um pouco para respirar.
O aeroporto particular dos Tarasova ficava no litoral. No topo de um pequeno planalto de pedras, o qual tinha fácil acesso a uma praia ao redor. Depois de sair da instalação, acabei me vendo caminhando em direção ao som do mar. Desci aquelas pedras escuras e deixei meus pés tocarem na areia quente enquanto eu caminhava em direção ao azul das ondas. Me sentei no chão, num suspiro, deixando a água roçar na parte debaixo dos meus pés. A água estava extremamente gelada, e o frio me fez estremecer.
Olhando para a linha de horizonte onde o azul do ocano encontrava o azul do céu, pensei em como era diferente a sete, dez, vinte anos atrás. Em vez dos dois buracos solitários ao meu lado, estariam meus pais. E não esses estranhos com quem eu atualmente dividia meus genes, não. Meus pais. Aqueles que costumavam ser meus melhores amigos. Aqueles que eu amava acima de tudo, e me orgulhava de ser filha. Eu queria tanto ser como eles... Orgulhá-los. Meus pais eram os meus exemplos. Mas agora... Eu tinha destruído meu relacionamento com a minha mãe, e o meu pai... Meu pai era o Comerciante de Almas.
— Aamir estava quase comendo todos os sanduíches, me agradeça por conseguir salvar um deles.
A voz de Dimitri me tirou completamente dos meus devaneios. Olhei para trás, apenas para vê-lo se aproximar de mim com um daqueles sanduíches em sua mão.
— Esta praia está ocupada?
— Tem espaço em qualquer lugar. — falei gentilmente, como se silenciosamente o permitisse que ele sentasse, mas sem tirar os olhos do horizonte. E assim Dimitri o fez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Beautiful Stranger
RomanceNa sua juventude, durante as férias de verão, Elaine Róson e Dimitri Tarasova se apaixonaram perdidamente um pelo outro. Porém, os trágicos caminhos do destino separaram os dois por oito anos, até que eles se reencontram para o casamento de Elaine c...