capítulo três

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No meu primeiro trabalho depois que terminei a faculdade, eu fui contratada para fazer o desenho na parede de uma churrascaria em reforma.

O dono do local era, de certa forma, bruto. E muito indeciso também. Ele mudava de opinião sobre o que queria em sua parede o tempo todo, dificultando meu trabalho. Outro fator que não ajudava era a constante fumaça lá dentro, pois a churrasqueira de tijolo estava sempre ligada. Mesmo assim, conseguimos chegar num produto final e eu fui devidamente paga, mas, por outro lado, fiquei cheirando a churrasco por dias.

Sem dúvidas havia melhores formas de trabalhar, porém, ainda assim, eu preferia estar fedendo a carvão em brasa naquele momento do que ter que ouvir mais um dos sermões do meu chefe na galeria de artes. Meu chefe era Michael Connor. Um artista desprezível e fracassado, que afogava suas mágoas por nunca ter se tornado um sucesso em seu vício em bebidas alcoólicas. Era praticamente impossível entrar na sala dele e não ver alguma bebida lá; mesmo que estivesse escondida, sempre tinha alguma garrafa ali.

A galeria de artes costumava ser administrada por sua esposa, até que ela não aguentara mais e fora embora, deixando o local nas mãos do alcoólatra. Embora Michael quisesse manter a galeria funcionando perfeitamente, imaginando que assim talvez sua esposa voltasse, ele não se esforçava para isso. Pelo contrário, passava seus dias brigando e dando ordens a mim e os outros funcionários, que acabavam sendo os únicos responsáveis pelo sucesso do lugar.

Naquele dia, eu estava trocando as flores de um dos vasos de vidro que decoravam o balcão de entrada da galeria, quando deixei um deles cair. Para minha sorte, o vaso não quebrou completamente, apenas uma pequena rachadura no canto. Provavelmente ninguém se importaria, pois, acidentes aconteciam o tempo todo, mas, infelizmente, Michael estava lá para ver meu erro. O sol brilhava lá fora, estávamos no auge da manhã, mas, pelo jeito que ele me olhou, eu soube que já tinha bebido um pouco.

Ele respirou fundo, e eu engoli seco, me preparando para o que viria a seguir.

— Elaine, você sabia que meu primo tem uma fazenda? — começou ele, me fazendo imediatamente encolher os ombros, intimidada por cada passo que ele tava em minha direção. — Tem alguns burros nessa fazenda. E uma vez, eu perguntei a algum deles se ele sabia que dinheiro não nascia em árvore. Ele obviamente não soube a resposta, afinal, era um burro. — ele soltou uma risada amargurada, olhando dentro dos meus olhos. — Então, me diga, Elaine... Você é burra?!

Dei um salto para trás, assustada, quando Michael bateu com força no balcão, usando a palma de sua mão e produzindo um estrondo.

— Foi um acidente. — murmurei, fitando o chão.

— Não consegue nem olhar nos meus olhos?! Patético. — berrou Michael, com um tom de voz elevado e cheio de fúria. — Acidentes custam dinheiro, Elaine! Esse vaso — ele pegou o objeto e segurou diante do meu rosto. — custa dinheiro! Você sabe que dinheiro não nasce em árvores, não sabe? — permaneci calada. — Responda! — ele colocou o vaso de volta, fazendo barulho novamente quando o vidro do objeto entrou em contato com a madeira do balcão.

— Sim, eu sei, mas...

Antes que eu pudesse terminar minha frase, Michael empurrou o vaso para o chão, partindo-o em milhões de pedacinhos.

— Vou descontar do seu salário. — disse ele, por fim. — Limpe isso.

Esperei meu chefe ir embora para poder me ajoelhar e começar a catar os pedaços. Os faxineiros se ofereceram a ajudar, mas eu disse que conseguiria sozinha. Quando fiquei sozinha ali, me segurei para não desabar. Um nó se formava em minha garganta, ao passo que uma lágrima ameaçava cair. Não podia permitir que isso acontecesse.

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