Beautiful Stranger

capítulo vinte e um

Eu só tinha me vestido de noiva duas vezes em toda a minha vida antes daquela noite.

A primeira acontecera quando eu era bem pequena, com cerca de quatro ou cinco anos. Naquela época meu cabelo castanho era bem mais curto e mais ondulados, e eu tinha enormes bochechas rosadas cheias de sardas. Eu estava brincando de boneca enquanto minha mãe assistia à televisão, e acabei reparando que era um programa de noivas. Então, para me parecer com as moças da televisão, peguei uma das toalhas brancas da minha mãe, enrolei no corpo e comecei a andar pela casa com um buquê na mão dizendo que eu estava prestes a me casar. Minha mãe, achando graça daquilo, resolveu fazer um casamento de brincadeira, em que eu me casei com um boneco Ken. Depois, ela me mostrou o vestido que usara quando casou com meu pai, e disse que o guardaria muito bem, caso eu quisesse usá-lo no meu próprio casamento.

A segunda vez fora quando me vesti de Emily, do filme A Noiva Cadáver para uma festa de Halloween quando tinha catorze anos, mas quando cheguei lá descobri que a festa nem era à fantasia, meus colegas de classe maldosos apenas tinham me dito aquilo para me fazerem passar vergonha — contudo, esta era uma história para outro dia.

Porque, naquela noite, eu não estava apenas vestida de noiva. Eu era uma noiva.

Eu mal conseguia me reconhecer quando me olhara no espelho assim que a maquiadora terminara seu trabalho. Eu estava simplesmente deslumbrante. Minha maquiagem estava completamente trabalhada em iluminador; meu rosto todo, até meus ombros brilhavam, fazendo as marcas do meu corpo, como o meu nariz fino, os ossos das minhas bochechas e minhas clavículas proeminentes, se destacarem, reluzindo. Eu parecia uma estrela cintilante e encantadora, as maçãs do rosto rosadas para combinar com o batom em meus lábios. A beleza do meu olhar fora reforçada com um delineado preto e cílios postiços, além de um glitter prateado servindo como sombra em minhas pálpebras. Por outro lado, minhas sardas desapareceram por completo debaixo da maquiagem, e, mesmo assim, não pude conter o sorrisinho tímido ao ver aquele resultado.

Enquanto isso, as ondas naturais do meu cabelo haviam sido reforçadas com babyliss e um coque belo e volumoso fora feito na parte de trás da minha cabeça, deixando que algumas mechas delicadas ficassem soltas e pendessem para todo lado, inclusive na frente do meu rosto. Para a ocasião, meu noivo me presenteara com as mais caras e mais pomposas joias que ele encontrara, todas prateadas para combinar com meu ostentoso anel de noivado. Cada centímetro de mim transbordava a riqueza abundante de Nikolai — uma princesa mimada por seu rei.

— Elaine, você está...

Me virei. Na porta da sala onde eu me arrumava estava minha melhor amiga e madrinha, Naira Patel, me encarando com uma expressão admirada em sua face. Como estávamos nos arrumados em salas diferentes, só agora víamos o resultado uma da outra. Naira estava belíssima. A maquiadora fizera um excelente trabalho em maquiá-la com cores que realçassem a beleza natural da sua pele morena e dos traços característicos de sua origem, como suas sobrancelhas grossas e nariz levemente grande e curvado. Usava vários acessórios combinando com seu piercing dourado, e um terno vermelho, com uma blusa no estilo corset que deixava uma linha de pele de sua barriga à mostra.

— Acha que está um pouco exagerado? — perguntei, num tom aflito. Não era segredo que eu estava nervosa; uma pilha de nervos para ser sincera. Eu já tomara a maracugina receitada pelo meu médico, e várias xícaras de chá, mas nada conseguia parar minhas mãos de tremerem e suarem.

— Elaine... — Naira riu fracamente e se aproximou para segurar em meus ombros gentilmente. — Você é a noiva. Tem que ser exagerada. E não de um jeito ruim, de um jeito bom, que a destacará de todos os outros. Você está linda.

— E você? — a segurei pela mão, fazendo-a dar uma giradinha. — Você está linda, Naira.

— Eu sou a madrinha, afinal. — ela deu de ombros, sorrindo. — Como está se sentindo?