ROSAS E ESPINHOS
"Sob a suave e verde luz da clareira na mata
Nos tufos de musgo onde brinca a tua infância
Sob a arvore familiar, por entre a qual os teus olhos
Pela primeira vez contemplaram, apaixonados, o céu de verão."
Mrs. Hemans
Margaret usava o seu vestido próprio para o dia, e mais uma vez viajava calmamente para casa com o pai, que viera assistir ao casamento. Sua mãe ficara detida em casa por uma infinidade de meias razões, nenhuma das quais totalmente compreendida por ninguém, exceto Mr. Hale. Ele estava perfeitamente ciente de que todos os seus argumentos a favor de um vestido de cetim cinza, a meio caminho entre o velho e o novo, se provaram inúteis. E que, como não tinha dinheiro suficiente para equipar a esposa dos pés à cabeça com roupas novas, ela não devia comparecer ao casamento da filha única da sua única irmã. Se Mrs. Shaw tivesse adivinhado o verdadeiro motivo pelo qual Mrs. Hale não acompanhara o marido, teria feito chover vestidos sobre ela. Mas fazia quase vinte anos que Mrs. Shaw havia sido a pobre e bela Miss Beresford e já esquecera todas as tristezas, exceto a infelicidade surgida da diferença de idades na vida conjugal, sobre a qual podia se lamentar durante meia hora. A querida Maria havia se casado com o homem a quem amava, apenas oito anos mais velho que ela, com o temperamento mais doce do mundo e os cabelos de um preto azulado muito raro. Mr. Hale era um dos mais deliciosos oradores que ela já ouvira, e o perfeito modelo de um pároco. Talvez o sentimento de Mrs. Hale não tivesse sido uma dedução lógica de todas essas premissas, mas apesar disso foi a conclusão característica de Mrs. Shaw, quando soube da decisão da irmã: "Casar por amor! O que a querida Maria pode ainda desejar neste mundo?" Mrs. Hale, para dizer a verdade, podia ter respondido com uma lista pronta: uma seda cor de prata brilhante, um chapéu branco, dúzias de coisas para o casamento e centenas de coisas para a casa. Margaret sabia apenas que a mãe achara mais conveniente não vir, e ela não lamentava que o seu encontro fosse acontecer no presbitério de Helstone, em vez de na casa de Harley Street, durante a confusão dos últimos dois ou três dias – onde ela tivera que fazer o papel de Fígaro, sendo solicitada em toda parte ao mesmo tempo. Tinha o corpo e a mente doloridos com a lembrança de tudo o que fizera e dissera nas últimas quarenta e oito horas. A despedida tão apressada, entre muitas outras despedidas, daquelas com quem vivera por tanto tempo, a oprimia. Lamentava-se tristemente por um tempo que não existia mais – não importa o quanto tivesse significado, acabara para nunca mais voltar. Margaret sentia o coração mais pesado do que imaginara, agora que voltava para o seu próprio lar, seu querido lar, para o lugar e a vida pelos quais ansiara durante anos, naqueles momentos em que mais sentimos a nostalgia e a saudade – antes que os nossos sentidos alertas percam a consciência ao mergulhar no sono. Tirou da mente com firmeza essas lembranças do passado e dirigiu seus pensamentos para a brilhante e serena contemplação de um futuro promissor. Seus olhos começaram a ver, não o que havia sido, mas a realidade diante dela. Seu querido pai, reclinado e dormindo no vagão do trem. O cabelo preto azulado agora estava grisalho, e alguns fios se espalhavam pela fronte. Os ossos da face estavam claramente à vista, demais até para serem bonitos, se os seus traços não fossem tão finamente talhados. Como eram, tinham uma graça e uma beleza toda próprias. O rosto estava sereno, mas era mais o repouso que sucede ao cansaço do que o semblante calmo e tranquilo de quem leva uma vida plácida e feliz. Margaret foi dolorosamente atingida pela sua expressão de fadiga e ansiedade. E voltou o pensamento para as circunstâncias conhecidas e declaradas da vida do pai, a fim de encontrar a causa das marcas que falavam tão claramente de angústia e depressão habituais.