AS VISITAS DE UM ANJO
"Como os anjos nos sonhos mais lindos
Visitam a alma enquanto o homem dorme,
Assim, alguns estranhos pensamentos
Transcendem nossos temas banais,
E se aproximam da glória."
Henry Vaughan
Mrs. Hale estava curiosamente interessada e bastante divertida com a ideia do jantar dos Thornton. Ficava imaginando os detalhes, com um pouco da simplicidade de uma criança, que quer ver descritos de antemão todos os prazeres que antecipa. Mas a vida monótona dos inválidos muitas vezes os transforma em crianças, na medida em que nenhum deles tem qualquer senso de proporção dos acontecimentos, e parecem todos acreditar que as paredes e cortinas que fecham o seu mundo, e mantém afastada qualquer outra coisa, devem necessariamente ser maiores do que tudo o que se encontra para além dele. Além disso, Mrs. Hale tivera suas vaidades quando moça, e talvez houvesse sofrido desnecessariamente com a sua falta quando se tornou a esposa de um pobre clérigo. Essas vaidades foram abafadas e reprimidas, mas não foram extintas. Ela gostava da ideia de ver Margaret vestir-se para uma festa, e discutiu o que ela deveria usar com uma ansiedade e inconstância que divertiram a filha. Margaret estava mais acostumada com a sociedade, só com a sua Harley Street, do que a mãe com os seus vinte e cinco anos de Helstone.
– Então, acha que deve usar o vestido de seda branco! Tem certeza que vai servir? Faz quase um ano que Edith se casou!
– Ah, sim, mamãe! Foi Mrs. Murray que o fez, e com certeza vai servir. Pode estar um dedinho mais largo ou apertado na cintura, caso eu tenha emagrecido ou engordado. Mas não acho que tenha havido qualquer alteração.
– Não é melhor deixar Dixon vê-lo? Ele pode estar amarelado, de ficar guardado.
– Se quiser, mamãe. Mas caso aconteça o pior, tenho um lindo vestido de gaze cor-de-rosa que a Tia Shaw me deu apenas dois ou três meses antes do casamento de Edith. Esse não deve ter amarelado.
– Não! Mas pode ter desbotado.
– Bem! Então tenho um de seda verde. Isso está me parecendo mais como a dificuldade de escolha dos ricos.
– Ah! Quisera saber o que você deve vestir! – disse Mrs. Hale, nervosa.
A atitude de Margaret mudou de imediato.
– Quer que eu os vista, um depois do outro, mamãe, para que veja e me diga de qual gosta mais?
– Ah... sim! Talvez seja melhor.
E assim Margaret saiu. Estava bastante inclinada a fazer algumas brincadeiras, por estar vestida em uma hora tão incomum. Fez seu rico vestido de seda branca parecer um queijo, e recuou para trás de sua mãe como se ela fosse a rainha. Mas quando viu que suas maluquices foram consideradas como interrupções em um assunto sério, e como tal aborreceram a mãe, ela voltou a ficar séria e calma. O que tinha o mundo (seu mundo) para incomodá-la tanto a respeito de um vestido, Margaret não conseguia entender. Mas nessa mesma tarde, ao contar do seu compromisso para Bessy Higgins (a propósito da criada que Mrs. Thornton prometera indicar), Bessy animou-se bastante ao saber da notícia.
– Minha querida! Então vai jantar na casa dos Thornton, na Fábrica Marlborough?
– Sim, Bessy. Por que está surpresa?
– Ah, não sei. Mas eles frequentam a alta-roda de Milton.
– E você acha que nós não pertencemos à alta-roda, não é, Bessy?