FORA DE SINTONIA
"Não de mal eu tenho, onde não possa reivindicar nenhum direito,
Nada me foi levado, de onde eu nada tinha,
Ainda que da minha aflição eu não possa ser inteiro;
Ou seja, desde que outro possa ser feliz
Com isso, para que assim me faça triste a tristeza."
Wyatt
Margaret não esperava obter muito prazer com a visita de Mr. Bell – só a aguardava ansiosamente por causa do pai. Quando seu padrinho chegou, porém, ela sentiu-se de imediato na posição de amizade mais natural do mundo. Ele disse que ela não possuía mérito algum em ser o que era – uma menina tão inteiramente de acordo com o seu próprio coração. Era um poder hereditário que ela possuía, de entrar e tomar posse do seu afeto, enquanto ela, em resposta, lhe deu muito crédito por estar tão jovem e vigoroso sob a capa e o capelo de membro da universidade.
– Jovem e vigoroso em calor e bondade, quero dizer. Eu temo admitir que acho as suas opiniões as mais velhas e antiquadas com que me deparei neste longo tempo.
– Ouça esta sua filha, Hale. Essa residência em Milton a corrompeu totalmente. Ela é uma democrata, uma republicana fanática, uma sócia da Sociedade de Paz, uma socialista...
– Papai, isso é só porque estou defendendo o progresso do comércio. Mr. Bell queria que ele continuasse parado no tempo, ainda fazendo a troca de peles de animais selvagens por castanhas.
– Não, não. Eu cavaria a terra e cultivaria batatas. E rasparia as peles dos animais selvagens para transformar a lã em todo tipo de pano. Não exagere, mocinha. Mas estou farto dessa agitação. Todo o mundo passando por cima de todo o mundo, na sua pressa de ficar rico.
– Não é todo mundo que pode sentar-se confortavelmente em um conjunto de salas da faculdade, e deixar suas riquezas crescerem sem qualquer esforço da sua parte. Sem dúvida há muitos homens aqui que seriam gratos se a sua propriedade crescesse como fez a sua, sem que eles se incomodassem com nada – disse Mr. Hale.
– Eu não acredito que eles gostariam. É a agitação e a luta que eles apreciam. Quanto a ficar quieto, aprendendo sobre o passado, ou moldando o futuro através do trabalho fiel sobre um espírito profético... Ora! Bobagem! Eu não acredito que haja um homem em Milton que consiga ficar quieto. E isso é uma grande arte.
– As pessoas de Milton, eu imagino, acham que os homens de Oxford não sabem se movimentar. Seria uma coisa muito boa se eles se misturassem um pouco mais.
– Poderia ser bom para os miltonianos. Muitas coisas que seriam boas para eles, no entanto, poderiam ser muito desagradáveis para outras pessoas.
– O senhor mesmo não é um homem de Milton? – perguntou Margaret. – Eu achava que o senhor tinha orgulho da sua cidade.
– Eu confesso que não vejo o que há para se orgulhar. Se você apenas for a Oxford, Margaret, eu lhe mostrarei um lugar para ser glorificado.
– Bem! – disse Mr. Hale – Mr. Thornton está chegando para tomar chá conosco esta noite, e ele é tão orgulhoso de Milton como você de Oxford. Você dois devem tentar tornar um ao outro um pouco mais liberal.
– Eu não quero ser mais liberal, obrigado – disse Mr. Bell.
– Mr. Thornton está vindo para o chá, papai? – perguntou Margaret, em voz baixa.