A SOMBRA DA MORTE
"Confia naquela mão secreta, que leva
A ninguém pela trilha em que ele avança;
E esteja sempre preparado para a mudança,
Pois por lei, o mundo é fluxo e refluxo."
Do Árabe
Na tarde seguinte Dr. Donaldson veio fazer sua primeira visita a Mrs. Hale. Aquele mistério – que Margaret esperava que tivesse sido desfeito com seus recentes hábitos de intimidade – foi renovado entre elas. Ela foi excluída da sala, enquanto Dixon era admitida. Margaret não era uma amante fácil de conquistar, mas quando amava, amava apaixonadamente, e com considerável grau de ciúme.
Ela entrou no quarto da mãe, que ficava logo atrás da sala, e começou a andar de um lado para o outro, esperando a saída do médico. De vez em quando parava para escutar, imaginando ouvir um gemido. Apertava as mãos e prendia o fôlego. Tinha certeza que ouvira um gemido. Então tudo ficou em silêncio por mais alguns minutos. Depois ouviu o arrastar das cadeiras, as vozes se elevando, todos as pequenas perturbações comuns nas despedidas.
Quando ouviu a porta abrir-se, saiu rapidamente do quarto.
– Meu pai não está em casa, Dr. Donaldson. Ele tem que atender um aluno neste horário. O senhor se incomodaria de me acompanhar até a sua sala, lá embaixo?
Ela percebeu e triunfou sobre todos os obstáculos que Dixon colocou em seu caminho, assumindo sua justa posição de filha da casa, um pouco no espírito de "O Irmão mais Velho", que venceu a impertinência do velho criado com muita eficácia. Essa postura digna em relação a Dixon, diferente dos seus hábitos e conscientemente assumida por Margaret, propiciou-lhe um momento de diversão no meio da sua ansiedade. Ela sabia, pela expressão de surpresa no rosto de Dixon, como devia estar parecendo majestosa. Desceu as escadas com essa ideia em mente, o que lhe permitiu esquecer por um instante a penetrante angústia que lhe causava o assunto que tinha em mãos. Agora o assunto lhe voltava à mente, e parecia deixá-la sem fôlego. Demorou alguns momentos para que conseguisse dizer alguma coisa.
Mas falou em um tom de comando, quando perguntou:
– Qual é o problema com mamãe? Peço-lhe a gentileza de me dizer simplesmente a verdade.
Então, sentindo uma leve hesitação por parte do médico, acrescentou:
– Sou a única filha que ela tem – pelo menos, aqui. E meu pai não está preocupado o suficiente, eu creio. Então, se houver algum problema sério, devo contar-lhe a notícia com gentileza. Eu posso fazer isso. Posso cuidar de mamãe, também. Por favor, diga-me, senhor. Olhar para o seu rosto, e não conseguir decifrá-lo, me enche de um temor que espero que nenhuma palavra sua possa justificar.
– Minha prezada jovem, sua mãe parece ter uma criada muito atenciosa e eficiente, que mais parece uma amiga...
– Eu sou a filha dela, senhor.
– Mas não devo contar-lhe. Ela pediu-me expressamente que não lhe contasse...
– Não sou paciente nem boa o suficiente para me submeter a essa proibição. Além disso, tenho certeza que o senhor é sensato demais e experiente demais para prometer guardar esse segredo.
– Bem – ele disse, com um sorriso meio triste – nisso você está certa. Eu não prometi. Na verdade, temo que o segredo logo seja descoberto, sem que eu precise revelá-lo.