O QUE É UMA GREVE?
"Há espinhos assolando todos os caminhos
Que exigem paciente cuidado;
Há uma cruz em cada parte,
E uma ardente carência de orações."
Anônimo
Margaret saiu dali muito deprimida, sem ânimo. Mas bastou a distância de uma rua – sim, o ar de uma rua de Milton – para revigorar seu espírito jovem antes que ela chegasse na primeira curva. Seu passo tornou-se mais leve, seus lábios mais vermelhos. Começou a notar as coisas à sua volta, ao invés de voltar seus pensamentos apenas para si. Viu vários desocupados nas ruas, o que não era habitual: homens com as mãos nos bolsos, vadiando. Grupos de moças falando e rindo alto, aparentemente muito animadas, e mostrando uma exuberante independência de caráter e comportamento. Entre os homens – que estavam em vergonhosa minoria – os mais mal-encarados vadiavam nos degraus das cervejarias e bares, fumando e fazendo comentários atrevidos sobre cada pessoa que passava. Margaret não gostou da ideia de fazer uma longa caminhada por aquelas ruas até chegar aos campos, onde pretendia ir. Em vez disso, resolveu visitar Bessy Higgins. Não seria tão revigorante quanto uma tranquila caminhada pelo campo, mas talvez fosse uma coisa mais generosa.
Nicholas Higgins estava fumando, sentado junto ao fogo, quando ela entrou. Bessy estava na cadeira de balanço, do outro lado.
Nicholas tirou o cachimbo da boca, levantou-se e empurrou sua cadeira na direção de Margaret. Apoiou-se no console da lareira, em posição reclinada, enquanto ela perguntava a Bessy como estava.
– Ela está com o espírito muito deprimido, mas está melhor de saúde. Ela não gosta desta greve. Está bastante resolvida a ficar em paz e tranquila, custe o que custar.
– Essa é a terceira greve que eu vejo – disse ela, suspirando, como se isso fosse resposta e explicação suficiente.
– Bem, a terceira vale por todas as outras. Vai ver se não vamos acabar com os patrões desta vez. Vai ver se eles não vão vir nos implorar para voltar, pagando o nosso preço. E basta. Já perdemos antes, eu concordo. Mas desta vez não pedimos demais.
– Mas por que fazem greve? – perguntou Margaret. – Entrar em greve é deixar o trabalho até que consigam os salários que desejam, não é? Não se espante com a minha ignorância, lá onde eu vivia nunca se ouviu falar de uma greve.
– Quem dera eu vivesse lá – disse Bessy, com a voz cansada. – Mas não suporto mais ficar doente e cansada com essas greves. Esta é a última que vou ver. Antes que termine, já estarei na Grande Cidade, a Sagrada Jerusalém.
– Ela só pensa na vida depois da morte, não vive o momento presente. E eu sou obrigado a fazer o melhor que puder aqui, como vê. Acho que mais vale um pássaro na mão que dois voando. E todos têm opiniões divergentes sobre a questão da greve.
– Mas lá no sul – disse Margaret – se as pessoas entrassem em greve, como você diz, ninguém semearia, não haveria feno nem colheita de milho, pois lá a maioria trabalha no campo.
– E daí? – disse ele.
Voltou a fumar seu cachimbo, depois do seu "e daí" em forma de interrogação.
– Bem, o que vai ser dos fazendeiros?
Ele soprou a fumaça.
– Imagino que ou vendem suas fazendas, ou pagam salários mais justos.
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