TRANQUILIDADE
"E pela praia ensolarada ela passeia devagar,
Com muitas pausas de dúvida pelo caminho;
A tristeza tem uma influência tão silenciosa e sagrada."
Hood
– Margaret não é a herdeira? – Edith sussurrou ao marido, quando estavam em seu quarto, à noite, após a triste viagem para Oxford.
Ela abaixou a cabeça e ficou na ponta dos pés, e lhe implorou que não ficasse chocado, antes de se aventurar a fazer essa pergunta. No entanto, Capitão Lennox estava totalmente no escuro – se alguma vez ouvira falar disso, ele havia esquecido. Um membro de uma pequena faculdade não podia ter uma renda muito alta. Mas ele nunca quis que ela pagasse pela sua manutenção, e duzentas e cinquenta libras por ano eram algo ridículo, considerando que ela não tomava vinho. Edith firmou-se sobre os pés, um pouco mais triste, como um romance que acaba mal.
Uma semana depois, ela dirigiu-se com arrogância ao marido, fazendo uma profunda reverência:
– Eu estava certa e você estava errado, meu nobre Capitão. Margaret recebeu uma carta de um advogado, e ela é a herdeira residual. Os legados são de cerca de duas mil libras, e o restante em torno de quarenta mil, o valor atual da propriedade de Milton.
– Realmente! E como ela reagiu a uma sorte tão grande?
– Oh, parece que ela sabia desde o começo, só não tinha ideia de que fosse tanto. Ela parece muito pálida e descorada, e diz que está com medo, mas isso é tolice, você sabe, e logo vai passar. Deixei mamãe se derramando em parabéns, e saí escondida para lhe contar.
Parecia ser consenso geral que a coisa mais natural do mundo seria considerar Mr. Lennox, de agora em diante, como consultor jurídico de Margaret. Ela era tão completamente ignorante de todas as formas de negócios que tinha que recorrer a ele para quase tudo. Ele escolheu seu advogado e trouxe-lhe os documentos para serem assinados. Mr. Lennox nunca foi tão feliz como quando lhe ensinava todos esses mistérios da lei representados por tipos e sinais.
– Henry – disse Edith, um dia, maliciosamente. – Você sabe como eu desejo e espero que terminem todas essas longas conversas com Margaret?
– Não, eu não sei – disse ele, corando. – E desejo que você não me diga.
– Oh! Muito bem. Então não preciso dizer a Sholto para não convidar Mr. Montagu com tanta frequência à nossa casa.
– Como você preferir – disse ele, com frieza forçada. – O que você está pensando pode ou não acontecer, mas desta vez, antes de me comprometer, espero ver o caminho livre. Convide quem quiser. Pode não ser muito educado, Edith, mas se você se intrometer nisso vai estragar tudo. Há muito tempo que ela vem me tratando com bastante desconfiança, e só agora está começando a abrandar um pouco as suas maneiras de Zenóbia. Ela tem a estrutura de uma Cleópatra, caso fosse só um pouco mais pagã.
– Da minha parte – disse Edith, um tanto maliciosa – estou bem contente que ela seja uma cristã. Eu conheço tão poucos!
Não houve Espanha alguma para Margaret naquele outono, embora até o fim ela esperasse que alguma ocasião afortunada levasse Frederick a Paris, onde ela poderia facilmente tê-lo encontrado com um comboio. Em vez de Cádiz, ela teve que se contentar com Cromer. Sua tia Shaw e os Lennox estavam presos ali. Eles desejaram que ela os acompanhasse desde o início, e, por conseguinte, com o caráter que possuíam, fizeram esforços apenas moderados para levar adiante o próprio desejo de Margaret, diferente do seu. Talvez Cromer fosse o melhor para ela, em determinado sentido. Margaret precisava estimular e fortalecer seu organismo, além de descansar.