CONFORTO NA TRISTEZA
"Através da cruz, a coroa! – E apesar da tua vida espiritual
Provações indizíveis atacam com força gigantesca,
Bom ânimo! Tende bom ânimo! Logo termina a amarga contenda,
E tu reinarás em paz com Cristo por todo o sempre."
Kosegarten
"Verdade sim, sentimos muito forte na fortuna, precisar de ti naquela estrada;
Mas chegada a desgraça, tola é a alma, que não clama por Deus."
Mrs. Browning
Naquela tarde ela caminhou apressada para a casa dos Higgins. Mary vigiava a sua chegada, com um rosto meio desconfiado. Margaret deu-lhe um sorriso, para acalmá-la. Atravessaram a peça rapidamente, subiram as escadas, e se encontraram na calma presença da morta. Então Margaret sentiu-se contente por ter vindo. O rosto, sempre tão esgotado pela dor, tão inquieto com pensamentos confusos, agora ostentava o leve sorriso do repouso eterno. Lentas lágrimas afloraram aos olhos de Margaret, mas uma calma profunda invadiu-lhe a alma. Então isso era a morte! Parecia mais tranquila do que a vida. Toda a beleza das sagradas escrituras veio à sua mente. "Eles descansam da sua labuta." "Os fatigados repousarão." "Ele concede aos Seus amados o sono."
Lentamente, muito lentamente, Margaret saiu de perto da cama. Mary estava chorando humildemente ao fundo. Elas desceram as escadas sem uma palavra.
Nicholas Higgins estava parado no meio da sala, descansando a mão sobre a mesa. Seus grandes olhos estavam arregalados pelas notícias que ouvira de muitas línguas afiadas, enquanto vinha pela rua. Os olhos eram secos e ferozes, estudando a realidade da morte da filha, esforçando-se para entender que a casa dela nunca mais teria a sua presença. Pois ela estivera doente, e vinha morrendo por tanto tempo, que ele se convencera de que ela não morreria, que ela iria "vencer as dificuldades".
Margaret sentia como se não tivesse nenhum direito de estar ali, se familiarizando com os ambientes da morte que ele, o pai, só agora descobria. Ela havia parado por um momento no íngreme degrau, assim que o vira. Mas agora tentou furtar-se ao seu olhar distraído e deixá-lo no círculo solene da sua desgraça familiar.
Mary se sentou na primeira cadeira que achou e, levando o avental ao rosto, começou a chorar.
O barulho pareceu despertá-lo. Ele agarrou o braço de Margaret e segurou-o até que pudesse encontrar palavras para falar. Ele parecia esgotado, suas palavras vieram pesadas, sufocadas, roucas:
– Você estava com ela? Viu quando ela morreu?
– Não! – Margaret respondeu.
Ficou parada, com extrema paciência, agora que ele já havia percebido a sua presença. Demorou algum tempo antes que ele falasse novamente, mas continuou segurando o braço de Margaret.
– Todos os homens têm que morrer – disse ele afinal, com uma estranha espécie de gravidade, que primeiro sugeriu a Margaret a ideia de que ele estivera bebendo, não o bastante para se intoxicar, mas o bastante para tornar seus pensamentos confusos. – Mas ela era mais jovem do que eu.
Ainda refletia sobre o que acontecera, sem olhar para Margaret, embora agarrasse seu braço com firmeza. De repente olhou para ela, com uma indagação selvagem no olhar.
– Tem certeza de que ela está morta, não apenas desmaiada? Ela já esteve assim antes, muitas vezes.
– Ela está morta – respondeu Margaret.