VISITAS MATINAIS
"Bem, suponho que devemos."
Sociedade dos Amigos
Mr. Thornton tivera alguma dificuldade para levar a mãe ao ponto certo de cortesia. Ela não fazia visitas com frequência, e quando fazia, era com má vontade que cumpria suas obrigações. O filho lhe dera uma carruagem, mas ela se recusava a permitir que ele gastasse para manter os cavalos. Eram alugados em ocasiões solenes, quando fazia visitas matinais ou à noite. Já alugara os cavalos por três dias, uma quinzena atrás, e acabara tranquilamente com todas as suas visitas, que agora deviam ter o incômodo e as despesas por sua vez. Mas Crampton era longe demais para ir a pé, e perguntara muitas vezes ao filho se o seu desejo de que ela visitasse os Hales era tão grande que permitisse as despesas de um coche de aluguel. Mrs. Thornton ficaria feliz se não fosse, pois, como dizia, não via utilidade em fazer amizade e ter intimidade com todos os professores e mestres de Milton. Desse jeito, daqui a pouco ele iria obrigá-la a visitar a esposa do professor de dança de Fanny!
– E iria mesmo, mãe, se Mr. Mason e a esposa vivessem em um lugar estranho e sem amigos, como os Hales.
– Oh, não precisa falar com tanta dureza. Eu vou amanhã. Só queria que soubesse exatamente como me sinto.
– Se a senhora vai amanhã, então vou pedir os cavalos.
– Que bobagem, John! Até parece que você é feito de dinheiro.
– Não totalmente, ainda. Mas quanto aos cavalos, estou decidido. Da última vez que saiu em um coche de aluguel voltou para casa com dor de cabeça, por causa dos solavancos.
– Estou certa que nunca me queixei disso.
– Não! Minha mãe não é dada a queixas – disse ele, um tanto orgulhoso. – Por isso, mais razão eu tenho de cuidá-la. E quanto à nossa Fanny, certa dificuldade vai fazer-lhe bem.
– Ela não é feita do mesmo material que você, John. Não poderia suportar isso.
Depois disso, Mrs. Thornton calou-se, pois suas últimas palavras guardavam relação com um assunto que a mortificava. Tinha um desprezo inconsciente pela fraqueza de caráter. E Fanny era fraca nos mesmos pontos em que a mãe e o irmão eram fortes. Mrs. Thornton não era uma mulher dada a argumentações. Seu rápido julgamento e firme resolução serviam-lhe muito bem, em vez de qualquer longa argumentação ou discussão consigo mesma. Seu instinto lhe dizia que nada podia fortalecer Fanny, de modo a suportar com paciência os sofrimentos, ou encarar as dificuldades com coragem. E embora ela recuasse, ao reconhecer essa verdade sobre a filha, isso apenas lhe dava uma espécie de piedosa ternura em relação à ela – muito parecida com o tipo de comportamento que as mães costumam ter para com seus filhos fracos e doentios. Um estranho, ou um observador menos cuidadoso, podia pensar que essa maneira de tratar os filhos indicava muito mais amor por Fanny do que por John. Mas essa pessoa se enganaria redondamente. A própria ousadia com que a mãe e o filho falavam verdades desagradáveis um para o outro mostrava uma firme confiança na alma de cada um, que a constrangedora ternura de Mrs. Thornton para com a filha, a vergonha com que tentava esconder a ausência na moça de todas as grandes qualidades que ela mesma possuía, e que valorizava tanto nos outros – essa vergonha traía a falta de um porto seguro para a sua afeição. Nunca chamava o filho por outro nome que não fosse John. "Amor", "querida", e outros termos parecidos, eram reservados para Fanny. Mas seu coração agradecia ao filho dia e noite, pois ela caminhava orgulhosamente entre as mulheres por causa dele.
– Fanny, querida, hoje alugamos cavalos para a carruagem, para visitar esses Hales. Não quer ir também e visitar a sua babá? Fica no caminho e ela sempre fica contente de vê-la. Você podia ficar lá enquanto estou na casa de Mrs. Hale.