Capítulo 35

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EXPIAÇÃO

"Não há nada tão finamente engendrado,

Mas ele vem para o sol".

Mr. Thornton continuou lá sentado por muito tempo. Sentia que sua companhia dava prazer a Mr. Hale, e ficou tocado com a súplica ansiosa e delicadamente expressa para que permanecesse um pouco mais – a melancólica "não vá ainda" – que seu pobre amigo dizia de vez em quando. Ele se perguntava se Margaret não voltaria, mas foi sem nenhuma intenção de vê-la que ele se demorou. Naquela hora – e na presença de alguém que estava sentindo tão completamente o nada absoluto da terra – ele foi razoável e controlado. Estava profundamente interessado em tudo que o pai de Margaret tinha a dizer.

– Da morte, e da pesada calmaria, e da mente que se tornou sombria.

Era curioso como a presença de Mr. Thornton tinha poder sobre Mr. Hale, a ponto de fazê-lo revelar os pensamentos secretos que mantinha escondidos até mesmo de Margaret. Fosse porque a simpatia da filha seria tão intensa, e demonstrada de forma tão viva, que ele tinha medo da sua própria reação; fosse porque à sua mente especulativa todos os tipos de dúvidas se apresentavam ao mesmo tempo, implorando e chorando alto para serem transformadas em certezas; fosse porque ele sabia que a filha teria recuado se ele expressasse qualquer dessas dúvidas, ou melhor, recuaria dele próprio como capaz de concebê-las – não importa qual fosse a razão, ele poderia desabafar melhor com Mr. Thornton do que com ela todos os pensamentos e fantasias e temores que haviam sido confinados em sua mente até agora. Mr. Thornton disse muito pouco, mas todas as palavras que proferiu aumentaram a confiança e consideração de Mr. Hale por ele. Se Mr. Hale fazia uma pausa ao expressar alguma agonia que lhe viesse à lembrança, as duas ou três palavras de Mr. Thornton completavam a frase, mostrando como seu significado fora profundamente compreendido. Se tinha uma dúvida, um medo – uma incerteza vagando em busca de repouso, mas não o encontrando, tão cegos pelas lágrimas estavam seus olhos – Mr. Thornton, em vez de ficar chocado, parecia ter ele próprio atravessado aquela mesma fase de pensamento, sugerindo onde o raio de luz exato podia ser encontrado para tornar claros os lugares escuros. Homem de ação como ele era, ocupado na grande batalha do mundo, havia uma religião mais profunda ligando-o a Deus no seu coração, apesar da sua forte obstinação – e através de todos os seus enganos – que Mr. Hale nem sequer sonhava. Eles nunca mais falariam de tais coisas, como tinha acontecido agora. Mas esta única conversa tornou-os pessoas especiais um para o outro, uniu-os de um modo que nenhuma conversa solta e indistinta sobre coisas sagradas jamais fez. Quando todos são aceitos, como pode haver um Santo dos Santos?

E todo esse tempo, Margaret jazia imóvel e branca como a morte, no chão do estúdio! Ela sucumbira sob o seu fardo. Era muito pesado, e fora carregado por longo tempo. Ela havia sido muito humilde e paciente, até que, de repente, sua fé cedera e ela buscara em vão por socorro! Seu bonito semblante tinha uma triste contração de sofrimento, embora não houvesse nenhum outro sinal de consciência restante. A boca – há pouco tempo atrás, tão tristemente projetada em desafio – estava descontraída e lívida.

– E par che de la sua labbia si mova, Uno spirto soave e pien d'amore, Chi va dicendo a l'anima: sospira!

O primeiro sintoma de que retornava à vida foi um tremor dos lábios – uma débil e muda tentativa de falar. Mas os olhos ainda estavam fechados, e o tremor terminou por aquietar-se. Então, apoiando fracamente nos braços por um momento para se firmar, Margaret se recobrou e levantou-se. Seu pente havia caído dos cabelos e, com um desejo intuitivo de apagar os sinais de fraqueza e voltar ao normal, ela começou a procurá-lo, embora, de vez em quando, no curso da procura, tivesse que sentar-se e recuperar as forças. A cabeça inclinada para a frente – as mãos humildemente pousadas, uma sobre a outra – ela tentou recobrar sua força de ânimo, esforçando-se para lembrar-se dos detalhes que a tinham lançado em tal estado de medo mortal, mas não pôde. Compreendia apenas dois fatos – que Frederick esteve em perigo de ser perseguido e descoberto em Londres, não só como culpado de homicídio não premeditado, mas como o líder mais imperdoável do motim, e que ela havia mentido para salvá-lo. Havia um consolo: sua mentira o salvara, nem que fosse por ter ganho algum tempo adicional. Se o inspetor viesse amanhã novamente, depois que ela tivesse recebido a carta pela qual ansiava, para assegurá-la da segurança do irmão, ela enfrentaria a vergonha, e aguentaria sua amarga penitência – ela, a altiva Margaret – reconhecendo perante a sala lotada da corte de justiça, se necessário fosse, que havia agido como "um cão" e feito aquilo. Mas se ele viesse antes que ela recebesse notícias de Frederick, se voltasse, como havia ameaçado veladamente, em poucas horas... ora! ela contaria aquela mentira de novo. Como as palavras sairiam, depois de toda esta terrível pausa para reflexão e remorso, sem trair a sua falsidade, ela não sabia. Mas sua repetição ganharia tempo – tempo para Frederick.

Norte e Sul (1854)Onde histórias criam vida. Descubra agora