ENGANOS
"Que quando sua mãe a viu, em sua mente
Era ferida dolorosa, sem saber bem o que supor."
Spenser
Não fazia cinco minutos que Margaret saíra quando Mr. Thornton entrou, o rosto em chamas.
– Não pude vir mais cedo: o superintendente... Onde está ela?
Olhou em volta da sala de jantar, e então virou-se quase irado para a mãe, que estava calmamente arrumando a mobília que fora desarranjada, e não respondeu imediatamente.
– Onde está Miss Hale? – perguntou outra vez.
– Foi para casa – disse ela, brevemente.
– Foi para casa?
– Sim. Ela estava bem melhor. Na verdade, não acho que estivesse muito ferida. Não são todas as pessoas que desmaiam por qualquer coisa.
– Lamento que ela tenha ido para casa – disse ele, caminhando inquieto em volta da sala. – Ela não poderia estar bem o suficiente para isso.
– Ela disse que estava; e Mr. Lowe disse que ela estava. Eu mesma fui buscá-lo.
– Obrigado, mãe.
Ele parou e ergueu um pouco a mão, para apertar a da mãe em agradecimento. Mas ela não notou o gesto.
– O que fez com os seus irlandeses?
– Mandei-os ao Dragon, para fazerem uma boa refeição, pobres infelizes. E então, por sorte, encontrei o Padre Grady, e lhe pedi que falasse com eles e os dissuadisse de irem embora em bando. Como Miss Hale foi para casa? Estou certo de que ela não podia andar.
– Ela pegou um táxi. Tudo foi feito adequadamente, até mesmo em relação ao pagamento. Vamos falar de qualquer outra coisa. Ela já causou perturbação bastante.
– Não sei onde eu estaria, se não fosse ela.
– Você se tornou tão desamparado a ponto de ter que ser defendido por uma menina? – perguntou Mrs. Thornton, desdenhosamente.
Ele corou.
– Não há muitas meninas que teriam recebido os golpes que eram destinados a mim – quero dizer, com tão decidida boa vontade.
– Uma menina apaixonada fará tudo o que estiver ao seu alcance – respondeu Mrs. Thornton, brevemente.
– Mãe! – ele deu um passo à frente e parou, tomado pela paixão.
Mrs. Thornton estava um pouco assustada com a força evidente que ele fazia para se controlar. Ela não estava certa da natureza das emoções que havia provocado. Só a violência era bastante clara. Seria raiva? Os olhos dele brilhavam, seu corpo se distendera, sua respiração era forte e rápida. Era uma mistura de alegria, de raiva, de orgulho, de surpresa feliz, de dúvida ofegante, mas ela não conseguia perceber isso. Ainda assim, Mrs. Thornton sentiu-se pouco à vontade – como se a presença de qualquer forte sentimento, cuja causa não é completamente entendida ou digna de pena – sempre tivesse esse efeito. Ela foi até o armário, abriu uma gaveta e tirou um espanador, que mantinha lá para qualquer propósito eventual. Havia visto uma gota de água-de-colônia no braço polido do sofá e, instintivamente, procurou limpá-la. Mas manteve as costas viradas para o filho por mais tempo do que o necessário. E quando falou, sua voz parecia estranha e constrangida.
– Você tomou algumas providências sobre os baderneiros, eu suponho? Teme que haja mais alguma violência? Onde estava a polícia? Nunca estão perto quando a gente precisa!