Capítulo 13

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UMA BRISA SUAVE EM UM LUGAR ABAFADO

"A dúvida, a inquietude, o medo e o pesar

E a angústia, tudo sombras vãs

Que a própria morte recusará

Desertos fatigantes devemos trilhar

No sombrio labirinto devemos penetrar

E por negros caminhos subterrâneos ser conduzidos

Mas, se devemos obedecer a um Guia

A trilha mais sombria, o caminho mais escuro

Nos lançarão no mais lindo dia

E nós, nas costas agora arremessados

Os perigos da viagem passados

Na casa do Pai nos veremos, por fim!"

R. C. Trench

Margaret correu escada acima assim que as visitas saíram, colocou o chapéu e o xale e foi apressada saber notícias de Bessy, e ficar com ela o máximo que pudesse antes do almoço. Enquanto andava pelas ruas estreitas e apinhadas, percebeu quanto interesse essas ruas tinham agora para ela, só porque aprendera a se interessar por um dos seus moradores.

Mary Higgins, a desleixada irmã mais nova, se esforçou tanto quanto pôde para deixar a casa limpa a fim de receber a esperada visita. O centro do assoalho havia sido polido, enquanto os ladrilhos embaixo das cadeiras e da mesa e em volta das paredes continuavam sujos e escuros. Embora o dia fosse quente, havia um bom fogo na lareira, fazendo o lugar parecer um forno. Margaret não entendia que esbanjar carvão era um sinal de hospitalidade da parte de Mary, e pensou que talvez o calor opressivo fosse necessário para Bessy. A própria Bessy sentava-se em um pequeno estofado, um tipo de sofá colocado sob a janela. Estava muito mais febril do que no dia anterior, e cansada de levantar-se cada vez que ouvia passos, para ver se era Margaret que chegava. E agora que Margaret estava ali, e sentara-se junto dela, Bessy recostou-se em silêncio, contente de olhar para o rosto de Margaret e tocar seu vestido com uma admiração infantil pela fineza do tecido.

– Nunca entendi antes por que o povo na Bíblia ligava tanto para roupas macias. Mas deve ser bom vestir-se como você. É fora do comum. Fico com os olhos cansados de ver a maioria das pessoas finas usando tantas cores, mas as que você usa me descansam. Onde conseguiu esse vestido?

– Em Londres – disse Margaret, divertida.

– Londres! Você já esteve em Londres?

– Sim! Vivi lá por alguns anos. Mas o meu lar era na floresta, no interior.

– Fale-me dele – disse Bessy. – Gosto que me falem do campo, das árvores e coisas assim.

Ela recostou-se, fechou os olhos e cruzou as mãos sobre o colo, em perfeito repouso, como se estivesse pronta para receber todas as ideias que Margaret pudesse lhe transmitir.

Margaret nunca falara de Helstone, desde que saíra de lá, só mencionara o nome casualmente. Via o povoado apenas em sonhos, mais vivo do que se fosse real, ou quando se deitava à noite e sua memória percorria todas as suas belas paisagens. Mas o coração de Margaret era generoso para com essa menina.

– Oh, Bessy! Eu amava com tanta ternura esse lar que tive que deixar! Queria que pudesse vê-lo. Não consigo lhe descrever metade da sua beleza. Há grandes árvores por toda a parte, que espalham seus galhos enormes e fazem uma boa sombra, mesmo no meio do dia. E ainda que todas as folhas pareçam estar imóveis, há sempre um som farfalhante por toda a volta e mais ao longe. Às vezes a grama é suave e macia como o veludo, outras vezes é molhada, com a perene umidade de um pequeno riacho escondido, que murmura bem pertinho. Em outras partes há samambaias onduladas, galhos e galhos de samambaias. Alguns são bem verdes, outros têm umas listas amarelas como se o sol dourado pousasse sobre eles, como no mar.

Norte e Sul (1854)Onde histórias criam vida. Descubra agora