ALÍVIO, NÃO PAZ
"Uma rotação tediosa, que nunca para,
A face do ontem é a imagem idêntica do hoje."
Cowper
"Do que cada um devia ser, ele vê a forma e a regra,
E até que chegue a isso, sua alegria nunca será completa."
Ruckert
Foi muito bom para Margaret que a extrema quietude da casa de Harley Street, durante o período de resguardo de Edith, lhe proporcionasse o descanso natural que ela precisava. Deu-lhe tempo para compreender a mudança súbita na sua situação nos últimos dois meses. Encontrou-se de repente habitando uma casa luxuosa, onde o mero conhecimento da existência de qualquer dificuldade ou preocupação mal parecia penetrar. As rodas da máquina da vida cotidiana estavam bem azeitadas e corriam com suavidade deliciosa. Mrs. Shaw e Edith dificilmente poderiam fazer mais por Margaret, no seu retorno ao que elas insistiam em chamar de sua casa. E ela sentia que era quase uma ingratidão ter um sentimento secreto de que o vicariato de Helstone – e mais, até mesmo a casa pequena e pobre de Milton, com o pai ansioso e a mãe inválida, e todos os pequenos cuidados domésticos de comparativa pobreza – compunham a sua real ideia de um lar. Edith estava ansiosa para recuperar-se, de modo a prover o quarto de Margaret de todos os confortos suaves e enfeites bonitos que havia em profusão no seu próprio quarto. Mrs. Shaw e a empregada encontraram ocupação bastante restaurando o guarda-roupa de Margaret a um estado de variedade elegante. Capitão Lennox era gentil, bondoso e cavalheiresco. Sentava-se com a esposa no seu quarto de vestir durante uma ou duas horas, diariamente. Brincava com o filhinho durante outra hora e passava o resto do tempo ociosamente no seu clube, quando não tinha algum compromisso para jantar fora. E antes que Margaret se recuperasse da sua necessidade de calma e repouso – antes que ela tivesse começado a sentir a falta de propósito e o tédio da sua vida – Edith deixou o quarto e retomou o seu papel habitual na família. E Margaret voltou ao velho hábito de cuidar, admirar e auxiliar a prima. Ela se encarregou alegremente de retirar todos os deveres das mãos de Edith: respondia aos bilhetes, lembrava-a dos compromissos, cuidava dela quando não havia qualquer perspectiva de alegria, e, por conseguinte, ela tendia a se imaginar doente. O resto da família, porém, estava plenamente engajada nos compromissos da estação em Londres, e Margaret muitas vezes ficava sozinha. Seus pensamentos, então, voltavam-se para Milton, com um senso estranho de contraste entre a vida lá e aqui. Estava ficando cansada daquela vida fácil e sem surpresas, que não requeria nenhuma luta ou esforço. Tinha medo até de se tornar sonolenta e enfraquecida, e esquecida de qualquer coisa além da vida que a envolvia com tantos luxos. Devia haver trabalhadores e batalhadores ali em Londres, mas ela nunca os viu. Os próprios criados viviam em um mundo subterrâneo só deles, do qual ela não conhecia nem as esperanças nem os temores. Eles só pareciam criar vida quando alguma necessidade ou desejo do seu patrão ou patroa os tornava necessários. Havia um vazio estranho e não satisfeito no coração e no modo de vida de Margaret. E quando uma vez ela insinuara isso vagamente a Edith, a última, esgotada com as danças da noite anterior, acariciou distraidamente o rosto da prima, que estava sentada ao seu lado na mesma atitude de antigamente – Margaret em um banco junto ao sofá onde Edith se recostava.
– Pobre criança! – disse Edith. – É um pouco triste para você ser deixada em casa, noite após noite, justo nesta época quando todo mundo está tão alegre. Mas logo teremos os nossos jantares dançantes – assim que Henry volte do circuito jurídico – e então haverá um pouco de mudança que vai lhe agradar bastante. Não admira que esteja tão desanimada, pobre querida!