SOZINHA! SOZINHA!
"Quando alguma voz amada que era para você
Som e doçura, falha, de repente,
E o silêncio, contra o qual você não ousa gritar,
Dói ao seu redor, como uma doença nova e forte...
Que esperança? Que tipo de ajuda? Qual música irá desfazer
Aquele silêncio aos seus sentidos?"
Mrs. Browning
O choque tinha sido grande. Margaret entrou em um estado de prostração que não se revelou por soluços ou lágrimas, nem mesmo achou o alívio das palavras. Ela jazia no sofá, com os olhos fechados, só falando se falassem com ela, e então respondendo com sussurros. Mr. Bell estava perplexo. Não ousava deixá-la. Não ousava pedir-lhe que o acompanhasse a Oxford, que era um dos planos que havia elaborado na sua viagem para Milton. Era evidente que o esgotamento físico de Margaret era muito grande para que ela enfrentasse qualquer desgaste dessa ordem – considerando que ela não o achasse fora de questão. Mr. Bell sentou-se junto ao fogo, refletindo sobre o que seria melhor fazer. Margaret jazia imóvel e quase sem respirar perto dele. Ele não a deixaria, nem mesmo para apreciar o jantar que Dixon havia preparado para ele no andar de baixo, e que, com chorosa hospitalidade, teria de bom grado tentado fazê-lo comer. Mr. Bell ainda tinha um prato cheio de algo que fora preparado para ele. Em geral, ele era bastante exigente e delicado, e conhecia bem cada variação de sabor na sua comida, mas agora o torturante frango tinha gosto de serragem. Ele picou um pedaço da ave para Margaret, apimentou-a e salgou-a bem. Mas quando Dixon, seguindo suas instruções, tentou alimentá-la, o fraco movimento de cabeça provou que, em um estado tal como Margaret se encontrava, a comida só iria sufocá-la, em vez de alimentá-la.
Mr. Bell deu um grande suspiro, ergueu seus membros velhos e robustos (endurecidos por causa da viagem) da sua posição confortável, e seguiu Dixon para fora da sala.
– Eu não posso deixá-la. Preciso escrever para Oxford, para que sejam tomadas as providências: eles podem seguir com tudo até que eu chegue. Não é possível Mrs. Lennox vir ficar com ela? Vou escrever-lhe para dizer que ela deve vir. A menina precisa ter alguma companhia feminina junto dela, nem que seja para ajudá-la a ter um ataque de choro.
Dixon estava chorando... o bastante para duas. Mas, depois de esfregar os olhos e firmar a voz, conseguiu contar a Mr. Bell que Mrs. Lennox estava de resguardo, e não poderia empreender qualquer viagem no momento.
– Bem! Então suponho que possamos chamar Mrs. Shaw. Ela voltou para a Inglaterra, não voltou?
– Sim, senhor, ela voltou. Mas eu não creio que ela gostará de deixar Mrs. Lennox nesse estado interessante – disse Dixon, que não aprovava muito que uma estranha entrasse na casa, para compartilhar com ela seu impositivo cuidado de Margaret.
– Estado interessante, é... – Mr. Bell limitou-se a tossir ao final da sua frase. – Pelo que sei ela devia estar bem contente de ficar em Veneza ou Nápoles, ou algum desses lugares papistas, durante o último "estado interessante" da filha, que aconteceu em Corfu, eu acho. E o que pode significar o "estado interessante" de uma mulher jovem e próspera, comparado com aquela pobre criatura ali – esta Margaret desamparada, sem lar, sem amigos – jazendo imóvel naquele sofá como se ele fosse um monumento funerário e ela a estátua de pedra. Estou lhe dizendo, Mrs. Shaw virá. Providencie para que um quarto, ou o que ela quiser, esteja pronto até amanhã à noite. Eu cuidarei para que ela venha.