A UNIÃO NEM SEMPRE FAZ A FORÇA
"Os passos dos que conduzem, pesados e lentos,
Os soluços dos que choram, profundos e baixos."
Shelley
No horário combinado no dia anterior, eles saíram a pé para visitar Nicholas Higgins e a filha. Ambos foram lembrados da sua perda recente por uma estranha timidez com relação aos trajes novos, e também porque era a primeira vez, em muitas semanas, que tinham deliberadamente saído juntos. Andavam muito próximos um do outro, em uma simpatia tácita.
Nicholas estava sentado junto ao fogo, no seu canto costumeiro: mas não fumava seu costumeiro cachimbo. Descansava a cabeça na mão, o braço apoiado sobre o joelho. Ele não se levantou quando os viu, embora Margaret pudesse ler as boas vindas nos seus olhos.
– Sentem-se, sentem-se. O fogo está muito fraco – disse ele, atiçando-o vigorosamente, como se quisesse desviar a atenção de si.
Ele estava bastante desleixado, com uma barba escura que vinha crescendo há vários dias, fazendo sua face pálida parecer ainda mais pálida, e uma jaqueta que estava mais do que na hora de ser remendada.
– Pensamos que havia uma boa chance de encontrá-lo, logo após o almoço – disse Margaret.
– Nós também passamos pela nossa tristeza, desde a última vez que nos vimos – disse Mr. Hale.
– Sim, sim. Tristezas são mais abundantes agora do que almoços, eu acho. Minha hora de jantar se estende por todo o dia. Podem estar bastante certos de me encontrar.
– Você está desempregado? – perguntou Margaret.
– Sim – ele respondeu, brevemente. Então, após um momento de silêncio, acrescentou, olhando para cima pela primeira vez – Mas não estou querendo uns cobres. Nem pensem nisso. Bess, pobre moça, tinha um pequeno estoque debaixo do travesseiro, pronto para cair na minha mão, na última hora, e a Mary é cortadora de linho. Mas eu estou sem trabalho do mesmo jeito.
– Nós devemos algum dinheiro a Mary – disse Mr. Hale, antes que o forte aperto de Margaret no seu braço pudesse impedir as palavras.
– Se ela aceitar, eu a expulso de casa. Vou morar dentro destas quatro paredes e ela vai morar fora. Só isso.
– Mas somos muito gratos pela gentileza dela, nos prestando esse serviço – começou Mr. Hale novamente.
– Eu nunca agradeci à sua filha aqui por seus atos de amor para com a minha pobre menina. Eu nunca consegui achar as palavras. Vou ter que tentar agora, se o senhor vai começar a fazer um escarcéu só porque a pequena Mary pôde ajudá-los.
– É por causa da greve que você está desempregado? – perguntou Margaret, gentilmente.
– A greve está encerrada. Já acabou agora. Estou desempregado porque nunca pedi trabalho. E eu nunca pedi, porque as palavras boas são escassas, e as ruins são abundantes.
Naquele seu estado de humor, sentia um prazer grosseiro em dar respostas em forma de enigmas. Mas Margaret viu que ele gostaria de ser convidado a explicar.
– E palavras boas são...?
– Pedir trabalho. Eu acho que são quase as melhores palavras que os homens podem dizer. "Dê-me trabalho" significa "e eu o realizarei como um homem." São palavras boas.
– E palavras ruins são recusar-lhe trabalho quando você pede.
– Sim. Palavras ruins é dizer "Ah! Meu bom camarada! Você tem sido fiel ao seu grupo, e eu serei fiel ao meu. Você fez o melhor que pôde por aqueles que precisavam de ajuda; esse é o seu jeito de ser fiel à sua natureza, e eu serei fiel à minha. Você tem sido um pobre tolo, como não se conhece nenhum melhor, e nem é um verdadeiro tolo fiel. Então vá e que se dane. Não há trabalho para você aqui." São palavras ruins. Eu não sou um tolo. E se eu fosse, os companheiros teriam me ensinado como ser sábio à sua maneira. Eu podia ter aprendido, se alguém tivesse tentado me ensinar.