Capítulo 47

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EM BUSCA DE ALGO

"A experiência, como um músico pálido, tem

O saltério da paciência em sua mão;

De onde as harmonias não podemos entender,

Da vontade de Deus nos Seus mundos, a tensão se desdobra

Em tristes, perplexos acordes."

Mrs. Browning

Por essa época Dixon voltou de Milton, e assumiu seu posto como criada de Margaret. Ela trouxe infinitos mexericos de Milton: como Martha tinha ido viver com Miss Thornton, depois do casamento da última, com um relato sobre as damas de honra, os vestidos e os cafés da manhã daquela cerimônia interessante; como as pessoas pensaram que Mr. Thornton tinha feito um casamento grandioso demais, considerando que ele havia perdido uma quantia enorme com a greve e tivera que pagar tanto por não cumprir seus contratos; como as peças de mobília mais baratas – longamente desejadas por Dixon – encantaram a todos no leilão, o que era uma vergonha, considerando o quanto as pessoas eram ricas em Milton; como Mrs. Thornton viera um dia e conseguira duas ou três boas pechinchas, e Mr. Thornton tinha vindo em seguida, e no seu desejo de obter uma ou duas coisas, competira consigo mesmo, para grande prazer dos arrematantes, como Dixon notou, o que acabou por igualar as coisas; se Mrs. Thornton pagou muito pouco, Mr. Thornton pagou demais. Mr. Bell tinha mandado todos os tipos de ordens a respeito dos livros, mas não houve entendimento, ele era muito minucioso; se ele tivesse vindo pessoalmente tudo teria dado certo, mas cartas sempre foram e sempre serão mais enigmáticas do que merecem. Dixon não tinha muito para contar sobre os Higgins. Sua memória tinha uma propensão aristocrática, e era muito traiçoeira sempre que ela tentava recordar qualquer circunstância ligada àqueles que estavam abaixo dela na vida. Nicholas estava muito bem, ela acreditava. Ele tinha ido várias vezes à casa para pedir notícias de Miss Margaret – a única pessoa que perguntara por ela, exceto uma vez Mr. Thornton. E Mary? Oh! Claro que ela estava muito bem, aquela coisa grande, forte, desleixada! Ela ouvira, ou talvez fosse só um sonho, apesar de que seria estranho se ela tivesse sonhado com pessoas como os Higgins, que Mary havia ido trabalhar na fábrica de Mr. Thornton, porque o pai queira que ela aprendesse a cozinhar, mas Dixon não sabia que bobagem isso poderia significar. Margaret concordou inteiramente com ela de que a história era incoerente o bastante para parecer um sonho. Ainda assim, era agradável ter alguém agora com quem pudesse falar sobre Milton, e sobre as pessoas de Milton. Dixon não era apaixonada pelo assunto, preferindo deixar essa parte da sua vida na sombra. Ela gostava muito mais de se dedicar às falas de Mr. Bell, que haviam lhe sugerido uma ideia do que era realmente a sua intenção – tornar Margaret sua herdeira. Mas a sua jovem patroa não lhe deu qualquer encorajamento, nem satisfez de modo algum as suas perguntas insinuantes, embora disfarçadas na forma de suspeitas ou afirmações.

Todo esse tempo, Margaret tinha um desejo estranho e indefinido de ouvir que Mr. Bell tinha ido fazer uma de suas visitas de negócios a Milton. Ficara bem entendido entre eles, no momento da sua conversa em Helstone, que a explicação que ela tinha desejado só deveria ser dada a Mr. Thornton por palavras, e mesmo dessa maneira, de modo algum devia ser forçada sobre ele. Mr. Bell não era nenhum grande correspondente, mas escrevia de vez em quando cartas longas ou curtas, conforme o humor do momento, e embora Margaret não estivesse consciente de qualquer esperança definida ao recebê-las, ainda assim sempre guardava as cartas com um leve sentimento de decepção. Ele não estava indo para Milton, não dissera nada sobre isso, de qualquer modo. Bem! Ela devia ser paciente. Cedo ou tarde as névoas se dissipariam. As cartas de Mr. Bell dificilmente se pareciam com ele mesmo – eram curtas e queixosas, e aqui e ali havia um pequeno toque de amargura que era incomum. Ele não olhava para o futuro à sua frente, parecia antes lamentar o passado e estar cansado do presente. Margaret imaginou que ele podia não estar bem, mas em resposta a algumas perguntas dela sobre a sua saúde, ele lhe enviou uma nota curta dizendo que havia uma queixa antiga chamada de baço, que ele estava sofrendo disso e que cabia a ela decidir se era mais mental do que físico, mas que ele gostaria de se permitir apenas resmungar, sem ser obrigado a enviar um relatório a cada vez.

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