Capítulo 30

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ENFIM, O LAR

"Os pássaros mais tristes encontram uma estação para cantar."

Southwell

"Nunca dobrar o manto sobre a dor secreta,

Nunca, sob o peso de nuvens de memória novamente,

Curvar a cabeça! Tu foste para casa!"

Mrs. Hemans

Mrs. Thornton veio ver Mrs. Hale na manhã seguinte. Ela estava muito pior. Uma dessas mudanças súbitas – essas grandes e visíveis caminhadas a passos largos em direção à morte – havia tido lugar à noite, e a própria família estava assustada com a aparência funda e acinzentada que os seus traços haviam assumido naquelas doze horas de sofrimento. Mrs. Thornton – que não a tinha visto durante várias semanas – ficou imediatamente comovida. Viera porque o filho havia pedido, como um favor pessoal, mas com todos os sentimentos amargos e orgulhosos da sua própria natureza, em armas contra aquela família da qual Margaret fazia parte. Ela duvidou que a doença de Mrs. Hale fosse real. Duvidou de qualquer necessidade por parte daquela senhora, além de um capricho momentâneo que deveria afastá-la do curso previamente estabelecido para os seus compromissos do dia. Ela dissera ao filho que desejava que eles nunca tivessem se aproximado daquela cidade; que ela nunca faria amizade com eles; que nunca se havia inventado nenhum idioma tão inútil quanto o latim e o grego. Ele aguentou tudo aquilo em silêncio. Mas quando ela terminou o seu discurso injurioso contra os idiomas mortos, o filho voltou calmamente a exprimir, de forma breve, curta e decidida, o seu desejo de que ela fosse ver Mrs. Hale na ocasião designada, que provavelmente era a mais conveniente para a inválida. Mrs. Thornton submeteu-se com tanta má vontade quanto podia ao desejo do filho, mas todo o tempo sentindo que gostava mais dele por isso – e exagerando em pensamento a noção que tinha da extraordinária bondade dele em perseverar na manutenção dessa amizade com os Hale.

A bondade dele que beirava a fraqueza (como todas as virtudes ternas na sua opinião), o próprio desprezo dela por Mr. e Mrs. Hale, e a sua positiva antipatia por Margaret, eram as ideias que ocupavam Mrs. Thornton, até que ela foi atingida em cheio pela sombra escura das asas do anjo de morte. Lá estava Mrs. Hale – uma mãe como ela, uma mulher muito mais jovem do que ela – em uma cama da qual não havia a menor esperança de que pudesse se levantar novamente. Para ela não havia mais nenhuma diferença entre o dia e a noite, naquele quarto escuro. Nenhum poder de ação, escassas mudanças de movimento, fraca alternância entre sons sussurrados e persistente silêncio, e ainda assim aquela vida monótona parecia quase intensa! Quando Mrs. Thornton entrou, próspera e cheia de vida, Mrs. Hale jazia imóvel, embora, pela expressão do seu rosto, estivesse perfeitamente consciente de quem ela era. Mas não abriu os olhos por um minuto ou dois. A umidade das lágrimas pesou em seus cílios antes que ela levantasse os olhos. Então, com a mão tateando debilmente sobre as cobertas para tocar os dedos grandes e firmes de Mrs. Thornton ela falou, mal conseguindo respirar, e Mrs. Thornton teve que se curvar da sua altivez para escutar.

– Margaret... a senhora tem uma filha... minha irmã está na Itália. Minha filha ficará sem mãe... em um lugar estranho... se eu morrer... Poderia...

E os seus olhos vagos e opacos se fixaram com enorme ansiedade no rosto de Mrs. Thornton. Durante um minuto, não houve nenhuma mudança em sua rigidez. Estava dura e impassível. Não. Mas os olhos da mulher doente foram se tornando turvos com as lágrimas que desciam lentamente, e ela poderia ter visto uma nuvem escura cruzar as feições frias. E não foi nenhum pensamento no filho, ou na sua vigorosa filha Fanny, que amoleceu seu coração afinal. Mas uma recordação súbita, sugerida por algo no arranjo do quarto... de uma filha pequenina... morta na infância... há muitos anos atrás. Como um súbito raio de sol, essa lembrança derreteu a crosta fria, atrás da qual havia uma mulher realmente terna.

Norte e Sul (1854)Onde histórias criam vida. Descubra agora