"OS VELHOS CONHECIDOS DEVERIAM SER ESQUECIDOS?"
"Não mostram aquelas maneiras, e todas essas feições,
A astúcia da serpente, e a queda do pecador?"
Crabbe
A fria, gelada manhã de outubro surgiu. Não a manhã de outubro do campo, com suas névoas macias e prateadas desaparecendo antes da chegada dos raios de sol, que salientavam toda a beleza deslumbrante das cores, mas a manhã de outubro de Milton, cujas névoas prateadas eram pesados nevoeiros, e onde o sol só podia mostrar longas ruas escuras, quando irrompia e brilhava. Margaret se arrastava desanimada, ajudando Dixon na sua tarefa de arrumar a casa. Seus olhos estavam continuamente cegos pelas lágrimas, mas ela não tinha tempo para dar vazão ao choro como devia. O pai e o irmão dependiam dela. Enquanto eles se entregavam à sua tristeza, ela devia estar trabalhando, planejando, ponderando. Até mesmo os arranjos necessários para o funeral pareciam ter sido delegados a ela.
Quando o fogo estava crepitando, brilhante – quando tudo estava pronto para o café da manhã, e a chaleira de chá cantava no fogão – Margaret deu um último olhar em volta do cômodo, antes de chamar Mr. Hale e Frederick. Queria que tudo parecesse tão alegre quanto possível, e mesmo assim, quando conseguiu, o contraste entre o ambiente e os seus próprios pensamentos levou-a subitamente a chorar. Ela estava ajoelhando junto ao sofá, escondendo o rosto nas almofadas para que ninguém ouvisse o seu choro, quando Dixon tocou-lhe o ombro.
– Vamos, Miss Hale... vamos, minha querida! Não deve se desesperar, senão o que será de todos nós? Não há outra pessoa na casa em condições de decidir qualquer coisa, e há tanto o que fazer! É preciso resolver quem cuidará do funeral, quem deve ser convidado, onde será realizado, e tudo o mais. E o jovem Frederick está quase louco de tanto chorar, e o patrão nunca foi bom para resolver qualquer coisa, e também, pobre cavalheiro, anda por aí como se estivesse perdido. É ruim o bastante, minha querida, eu sei. Mas a morte vem para todos nós, e você tem sorte de nunca ter perdido qualquer amigo até agora. Talvez sim. Mas esta é uma perda por si só, não pode ser comparada com qualquer outro evento no mundo.
Margaret não obteve nenhum consolo das palavras de Dixon, mas a ternura incomum das maneiras da velha e afetada criada tocou-lhe o coração. E mais pelo desejo de mostrar sua gratidão por isso do que por qualquer outra razão, ela se levantou e sorriu em resposta ao olhar ansioso de Dixon. E foi dizer ao pai e ao irmão que o café da manhã estava pronto.
Mr. Hale veio – como se estivesse em um sonho, ou antes, com o movimento inconsciente de um sonâmbulo, cujos olhos e mente percebem outras coisas além do que está presente. Frederick entrou vivamente, com uma alegria forçada, agarrou a mão dela, olhou nos seus olhos, e começou a chorar. Ela teve que se esforçar para pensar em pequenas coisinhas para dizer durante todo o café da manhã, de movo a evitar que retornasse com muita força à mente dos seus companheiros a última refeição que haviam feito juntos, quando houvera uma ininterrupta e tensa escuta de algum som ou sinal vindo do quarto da doente.
Depois do café da manhã, ela resolveu falar com o pai sobre o funeral. Ele sacudiu a cabeça e concordou com tudo que ela propôs, embora muitas das suas proposições contradissessem totalmente umas às outras. Margaret não obteve nenhuma decisão concreta da parte dele, e estava deixando o quarto desanimada para ter uma consulta com Dixon, quando Mr. Hale chamou-a de volta.
– Peça a Mr. Bell – disse ele, em uma voz apática.
– Mr. Bell! – ela disse, um pouco surpresa. – Mr. Bell de Oxford?
– Mr. Bell – ele repetiu. – Sim. Ele foi meu padrinho de casamento.
Margaret entendeu a associação.