Capítulo 27

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PEDAÇOS DE FRUTA

"Pois uma coisa jamais será errada

Quando são a singeleza e o dever que a oferecem."

Sonhos de uma Noite de Verão

Mr. Thornton entrou direto e firme em todos os assuntos do dia seguinte. Havia uma pequena demanda de produtos acabados, e como isso afetava o seu ramo de negócios, ele se aproveitou da situação e fez duras barganhas. Chegou pontualmente à reunião com seus colegas magistrados, dando-lhes a melhor ajuda possível com seu extremo bom senso e sua capacidade de ver as consequências em um relance, e assim chegar a uma decisão rápida. Homens mais velhos, homens há longo tempo estabelecidos na cidade, homens de riqueza muito maior – concretamente aplicada em terras, enquanto a dele estava toda em capital flutuante, aplicado em seu negócio – procuravam-no, em busca de conselhos práticos e sábios. Ele fora o único incumbido de falar e tratar com a polícia, para assumir a liderança em todas as etapas necessárias. Mr. Thornton não ligava para a deferência inconsciente daqueles homens mais do que para o suave vento oeste, que mal fazia a fumaça das grandes e altas chaminés desviar-se do seu curso direto para cima. Não tinha consciência do respeito silencioso que lhe dedicavam. Se tivesse sido de outra forma, ele teria considerado isso como um obstáculo no seu caminho em direção ao objetivo que tinha em vista. Da forma que era, ele visou a rápida realização de tudo sozinho. Foram os ouvidos vorazes da mãe que captaram, no tipo feminino daqueles magistrados e homens ricos, como Mr. Fulano ou Mr. Beltrano tinham Mr. Thornton em alta conta; e que se ele não tivesse estado lá, as coisas teriam acontecido de modo muito diferente – muito mal, de fato. Ele superou todos os seus negócios, de um lado e de outro, naquele dia. Sentia como se a sua profunda angústia de ontem, e o curso atordoante e sem propósito das horas que se seguiram, houvessem removido toda a névoa da sua mente. Sentia o seu poder, e se alegrava com isso. Podia quase desafiar seu coração. Se ele tivesse sabido disso antes, poderia ter cantado a canção do moleiro que vivia junto do rio Dee:

– Eu não gosto de ninguém. Ninguém gosta de mim.

A prova contra Boucher, e outros cabeças do motim, foi apresentada a ele; aquela contra os três outros, por conspiração, fracassara. Mas ele cobrou severamente a polícia para estar de prontidão, pois o braço direito da lei deveria estar pronto para atacar com rapidez, assim que eles pudessem provar uma falta. E então ele deixou a sala quente e opressiva do tribunal do município, e saiu para o ar mais fresco, embora abafado, da rua. De repente, pareceu que tudo lhe vinha à mente ao mesmo tempo. Estava tão desanimado que não podia controlar seus pensamentos; eles acabariam por vagar na direção dela; trariam de volta a cena – não da sua repulsa e rejeição no dia anterior, mas dos olhares e das ações do dia antes desse. Andou mecanicamente ao longo das ruas abarrotadas, girando para cá e para lá entre as pessoas, mas sem nunca vê-las – quase doente com o anseio de que aquela meia hora – aquele curto espaço de tempo em que ela se abraçou a ele, e seu coração bateu-lhe contra o peito – acontecesse uma vez mais.

– Pois o senhor está friamente fingindo que não me conhece, Mr. Thornton, devo lhe dizer! E como vai sua mãe? Que belo tempo está fazendo! Nós, os doutores, não gostamos desse tempo, posso lhe garantir!

– Peço-lhe perdão, Dr. Donaldson. Eu realmente não o vi. Minha mãe está muito bem, obrigado. É um belo dia, muito bom para a colheita, eu acho. Se a safra do trigo for boa, teremos um comércio animado no ano que vem, não importa o que vocês, doutores, pensem.

– Sim, sim. Cada um por si. Seu tempo ruim, e seus tempos difíceis, são bons para mim. Quando os negócios vão mal, há mais deterioração na saúde e preparação para a morte entre vocês, os homens de Milton, do que o senhor imagina.

Norte e Sul (1854)Onde histórias criam vida. Descubra agora