Destruidora De Corações ✰

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Uma semana inteira havia se passado num piscar de olhos e sem que os dois notassem.

Quando Taylor tinha que sair para alguma eventual reunião de trabalho se pegava pensando em voltar logo para casa.

Quando Taylor se ausentava, Livia desobedecia as ordens de não se mover demais para não abrir os pontos na barriga e se pegava ajeitando a casa ou preparando algo que Taylor iria gostar ao voltar.

Ela o convenceu a levá-la para o curso à noite, mas não o convenceu a deixar que ela voltasse para a floricultura, ele fez questão de ir até lá e conversar com o chefe de Livia, por sorte a esposa do chefe foi quem o atendeu e Taylor não precisou nem insistir que ela desse alguns dias de folga para Livia, bastou um pedido usando um olhar mais insinuante, sorrir um pouco e estava feito. Livia não gostou nada de saber disso, tinha certeza de que afetaria seu emprego de alguma forma, mas não tinha o que fazer a não ser aceitar.

Cada dia a mais que Livia ficava na casa dele era um dia a mais que se acostumavam um com o outro e ficavam cada vez mais íntimos. Íntimos demais, às vezes ela admitia, mas não podia negar que não fugia porque no fundo estava gostando. Havia algo indescritível e satisfatório demais, quase viciante, sobre ter certa cumplicidade com alguém e aquela sensação de cumplicidade anestesiava toda a sua capacidade de se manter racional como sempre havia sido, o que havia entre os dois calava até mesmo a voz da sua consciência que estava sempre lhe avisando: em casos de situações perigosas como ficar tão íntima de seu patrão, o melhor é sempre correr. Mas ela não queria ir a lugar algum.

Às vezes, quando ela e Taylor estavam vendo TV juntos e ele deitava a cabeça em suas pernas enquanto ela acariciava os cabelos dele, Livia tinha a sensação de que poderia viver daquele jeito pra sempre, porém no minuto seguinte pensava em como seria sua vida se aquele pra sempre acontecesse e mesmo em sua imaginação uma vida com Taylor era algo impossível. Seus mundos estavam a uma galáxia de distância e jamais se misturariam. Suas maiores ambições eram continuar se mantendo em Londres e um dia talvez ter uma padaria brasileira em Kensington, e as de Taylor? Ele provavelmente queria conquistar o mundo.

Ainda não era tarde quando voltaram para casa depois de uma ida ao cinema. Não se sentaram juntos mesmo que não houvesse quase ninguém no local. Se sentaram na mesma fileira, mas um tanto distantes um do outro. Livia não queria correr o risco de ter outra foto daquelas publicada no dia seguinte e Taylor respeitava o fato de Livia preferir as coisas daquele jeito. Sentado a umas cinco cadeiras de distância dela imaginava como seria se estivessem um ao lado do outro, talvez como namorados. Eu não soltaria a mão dela. Imaginou as pessoas olhando para os dois e o que pensariam. Todos iam dizer que sou um homem de sorte, que dessa vez eu acertei. Ele não prestou atenção ao filme. No escuro, não conseguia tirar os olhos dela. Quando uma cena mais interessante surgia, Livia olhava para ele e sorria compartilhando as sensações enquanto devorava um balde de pipoca. O coração dele queimava no peito. Taylor inspirou fundo. Precisava fazer algo sobre isso. Ela tinha que saber ou seu coração explodiria.

— Você nem prestou atenção no filme. — Provocou Livia quando chegaram na casa dele. — Você estava quase dormindo, confessa.

— Não estava, não. E você estava distante demais pra saber.

— Então o que foi que Harry disse a Sally?

Taylor riu e trancou a porta depois de entrarem.

— Não é justo. Essa foi a primeira vez que assisti este filme.

— E não prestou nem um pouco de atenção. Isso é uma heresia cinematográfica, sabia? O que seus amigos de Hollywood vão dizer? Harry e Sally é um clássico.

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