Não Fomos Feitos Um Pro Outro ✰

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Taylor esfregou os olhos ao acordar. O quarto estava bem claro. Olhou para o lado e não viu Livia. Imaginou que ela já estivesse lá embaixo e foi ao banheiro. Minutos depois ele saiu de lá atordoado, acelerado se lembrando da surpresa que tinha pra ela. Precisava ligar para seus advogados para confirmar a que horas poderia levar Livia ao escritório deles e começou a procurar seu celular feito doido. Não estava nos bolsos, obviamente não tinha dormido com ele no bolso, ergueu os travesseiros, o edredom e... um envelope caiu no chão chamando sua atenção. Ele parou, franzindo as sobrancelhas e pegou.

Havia um brasão da Polícia do Reino Unido e outro do Departamento de Imigração. O envelope já estava aberto então ele tirou o papel lá de dentro e leu.

Taylor sentiu os músculos amolecerem. Era um documento oficial dizendo que Livia deveria partir naquele dia até às... sete da manhã ou seria considerada ilegal no país.

— Livia.

Taylor disparou saindo do quarto aos trancos. Foi para seu quarto. Começou a procurar pelo celular, ou seu relógio de pulso que foi o que encontrou primeiro. Seis e vinte e oito.

Ele podia jurar ter sentido uma pontada no coração naquele momento.

Seu celular estava no lugar mais improvável e mais óbvio, ainda dentro do terno molhado no banheiro. Pegou às pressas quase rasgando o tecido, tentou ligar para ela, mas o telefone de Livia nem mesmo chamava. Ele calçou os chinelos, vestiu uma blusa qualquer e desceu a escada correndo, agarrou as chaves e parou no hall quando a porta se abriu. Ele segurou a respiração.

— Bom dia, bebê. Pulou da cama?

— Kim? — Os ombros dele caíram desanimados. Queria mais do que tudo que fosse Livia. — Eu preciso ir. Depois nos falamos.

— Êi? O que foi? — Gritou ela, mas Taylor passou por ela na porta como um raio, abriu a porta da garagem e entrou no carro.

Ainda era cedo e muitos carros ainda estavam nas ruas a caminho do trabalho transformando o trânsito em uma loucura como costumavam ser todas as manhãs em Kensington. No entanto, Taylor, que não estava acostumado a dirigir pela cidade em horário de pico e seu GPS não estava exatamente ajudando a seguir por ruas menos movimentadas. Ele esmurrava o volante, praguejava, olhava no relógio do painel e sentia o coração acelerar mais do que seu carro.

Depois de ficar parado quase cinco minutos em uma rua, fez uma curva brusca em uma esquina entrando em uma rua estreita, conseguiu sair em um local menos movimentado e só então seu GPS o guiou por ruas menos agitadas e ele conseguiu seguir um pouco mais rápido.


✰✰✰


Livia não olhou para trás quando saiu da casa de Taylor.

Mal conseguia respirar quando atravessou o jardim da casa dele sabendo que era a última vez.

Olhava apenas pra frente, para o táxi parado em frente à casa dele esperando por ela e assim que entrou enterrou as mãos no rosto, mas não tinha tempo para chorar, se recompôs pediu que o taxista acelerasse para sua casa porque não podia perder o vôo de volta para o Brasil e tinha menos de uma hora para juntar suas coisas e partir.

Por sorte suas coisas já estavam praticamente prontas. Ao longo daquela semana tinha acertado o último aluguel. Teria que deixar muitas coisas na casa e autorizou que fossem doadas e não se importava com isso, a não ser com sua bicicleta, era a única coisa que gostaria de poder levar. Trocou de roupa, checou os documentos que precisaria, olhou novamente o comprovante online de compra da passagem que pegaria no aeroporto, juntou suas coisas, parou no meio da sala olhando em volta com um aperto infernal no coração. Aquela não era a casa da qual gostaria de estar se despedindo, mas a dor que sentiu no peito não era menor por causa disso.

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