Tempo ✰

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Nos primeiros dias Livia esperou que Taylor enviasse mensagens dizendo que estava bem, mas isso não aconteceu. Ela checava o telefone a cada segundo, testava pra ver se o problema não era sua internet, ligava e desligava o telefone caso o problema fosse no aparelho mesmo que no fundo soubesse que ele realmente não tinha enviado mensagem alguma.

Então, impaciente e se lixando para a dignidade que ainda lhe restava, ela enviou uma mensagem.

Taylor respondeu muitas horas depois apenas confirmando que tinha chegado bem sem nem dizer exatamente onde estava. Na segunda mensagem que ela enviou tentando a todo custo manter vivo o que ela achava que eles tinham, ele respondeu apenas com um emoji que exibia um sorriso indecifrável. Na terceira e na quarta mensagem ele nem se deu mais ao trabalho de visualizar e ela entendeu que era hora de parar. Livia desistiu admitindo que merecia ser ignorada e que ele merecia ter alguma paz, então nada mais de mensagens.

Ela se sentiu sozinha pela primeira vez desde que chegara a Londres há cinco anos. Mais sozinha do que nunca.

Livia tentou calcular quando foi que começou a passar mais tempo com Taylor do que com os outros amigos e se deu conta de que nem se importava mais em estar com eles quando tinha Taylor por perto.

Um mês havia se passado desde que ele partiu e ela não tinha mais pra onde ir durante as manhãs. Passava aquele tempo limpando a própria casa que já estava sempre limpa, ou cozinhando, cozinhando muito, e o trabalho na floricultura durante a tarde estava um tédio ainda maior do que antes.

As coisas não haviam mudado no curso de Literatura, mas no curso de Arte uma das duas aulas que tinha era sempre ministrada por Marco e havia se tornado um inferno vê-lo quase todos os dias. Ele não a procurou e não se falaram mais depois daquela noite no restaurante, mas ter que olhar para ele todas as noites era uma tortura. Livia entrava na sala de aula em cima da hora e saía o mais rápido que conseguia quando a aula terminava. Durante as aulas ela se encolhia na cadeira no fundo da sala e evitava ao máximo olhar para ele. Marco não fazia nenhuma provocação, mas quando ela se distraía e acabava olhando para ele o via encarando e assim que ele a pegava olhando dava um sorriso ou uma piscada ridícula que a fazia revirar os olhos com raiva, de qualquer maneira, ela ficava agradecida porque não passava disso.

Nos últimos dias Livia não tinha mais vontade de estar com ninguém. Quando algum colega da universidade a procurava ela se recusava a sair e os amigos do curso de Artes, os mesmos que também eram amigos de Marco, obviamente tinham ficado do lado dele o que significava que as coisas com eles iam de mal a pior. Se Marco parecia não dar a mínima para ela, eles pareciam estar revoltados e Livia soube disso porque eles sempre davam um jeito de cruzar seu caminho de um jeito nada amistoso. Faziam questão de passar por ela, mas não respondiam quando ela cumprimentava, lançavam olhares nada amigáveis quando se cruzavam pelos corredores ou na sala de aula e outro dia, enquanto Livia lia no jardim de um dos pátios na Durham, eles se sentaram num banco do outro lado e ficaram encarando de um jeito ameaçador. Ela ficou imaginando o que Marco havia dito a eles. Irritada com a situação, ela se levantou e andou na direção do grupo para tirar algumas satisfações, mas eles saíram antes que ela chegasse mais perto e sumiram em um dos corredores da universidade.

Cansada de imaginar o que estaria acontecendo, ela resolveu que botaria um ponto final naquela história. Um dia, assim que saiu do trabalho, foi direto para a universidade. Antes de uma aula, Livia foi até o laboratório onde sabia que encontraria Anthony, Emma e Phillip. Entrou na sala torcendo pra que Marco não estivesse lá e ele não estava, mas assim que entrou os olhares frios dos três a fez congelar por dentro.

— Oi. — Disse ela analisando cada um deles. Eles pararam o que estavam fazendo e não responderam. Olha, não sei o que Marco contou a vocês, não entendo porque estão agindo assim, mas eu não fiz nada.

ALGUÉM COMO VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora