3. Aquele com o dia da mudança de Santana (1ª parte)

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Seus olhos estão completamente abertos, e, através deles, Santana fita um enorme caminhão quase que colando à guia da calçada em que se encontra. Um motorista nada habilidoso, diga-se de passagem. Pouco a pouco, livros, DVDs, televisão, notebook, mais livros (muitos livros) e todos os seus demais pertences – muito bem encaixotados e especificados; vão desaparecendo, ao passo que são conduzidos para dentro do veículo encarregado da mudança. A empresa contratada se atrasou, no mínimo, quarenta minutos; já a morena, está adiantada há horas.

Nada é perfeito, ela sabe.

Fazer o quê.

Apesar do preço "baixíssimo" cobrado e o atraso em si, o serviço da companhia até que é muito bom. Melhor do que a Lopez imaginava, na verdade. Isso é ótimo. Ótimo. Ninguém, até o momento, ameaçou arrebentar suas coisas ao colocá-las (no lugar de lançá-las) na carroceria do automóvel, como foi no caso de quando chegou à Nova York.

Há pouco mais de três anos.

Nada supera aquela sua mudança desastrosa. Absolutamente, nada.

— Por que você continua me enchendo com essa história, hein?!

— Porque não dá pra entender você desistindo assim! Não parece com você...

Depois dela, Santana se mudou outras duas vezes. Porém, isso já não importa. É passado. Ficou para trás, junto a quem ela costumava ser.

Junto a todo o resto.

Essa empresa daqui é indicação de um amigo, não precisa se preocupar tanto. Ao menos, é o que ela espera. E deseja.

Profundamente... Ok, chega. Tudo anda bem.

Um suspiro repentino relaxa-a de pensamentos negativos. Tem que se concentrar no trabalho dos homens que trazem suas coisas do penúltimo andar até aqui, e nada mais.

Nada.

(...)

— Bom, parece que finalmente terminamos lá em cima. — O funcionário mais novo notifica Santana, com um sorriso tímido na face jovial. Não aparenta ter muita experiência. — Agora, você... Ahn... Precisa assinar isso daqui pra mim... D-Digo, pra finalizarmos, por favor.

— Ok.

— Certo... Aqui está.

Ele a entrega um contrato e uma caneta, enquanto os outros uniformizados entram no caminhão. Após lê-lo por completo, Santana o assina. É oficial.

Só verá suas coisas em outra cidade. Intactas, de preferência.

Pois, seu cuidado especial com o empacotamento delas não foi em vão.

Nunca é. E, nunca será.

O jovem trabalhador se surpreende com ela, não é todo dia que alguém lê aquele documento nos mínimos detalhes.

Impressionante.

— Pronto. — A morena devolve o papel e a caneta a ele. — Mais alguma coisa?

— Não, não. Tudo certinho por aqui, moça. Agora, só no teu destino mesmo. Obrigado.

— Eu que agradeço. — Exceto pelo atraso, ela queria acrescentar. Mas, dessa vez passa, seu humor vai bem.

— Com licença. — O rapaz ameaça se virar, entretanto dá meia volta. Age como um robô. Hesitante, coça a cabeça. Perguntar ou não perguntar? Perguntar. — Ahn, senhorita Santana... Desculpe pela inconveniência, mas... Você trabalhava no Spice Cheerio, não trabalhava?

Our Hands Tied - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora