18. Aquele na casa da abuela

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Eu te amo.

Três simples palavras que, ao serem combinadas entre si, têm grande poder de mudança. Absurda, melhor dizendo. Uma frase que quando faz parte do dia a dia é fortalecida, mas quando hábito esquecida. E em ocasiões específicas, enaltecida. Como em suas primeiras vezes. Ou em meio a silêncios eufônicos, preenchidos de calor. Períodos de genuína atenção.

"... o que é ainda mais irônico, porque eu ainda te amo."

Mesmo sem perceber, no instante em que deixou as palavras correrem naquele avião, Santana se declarou pela primeira vez à Brittany, mais uma vez, em meio a tantas outras vezes em anos. Foi real, sincero... Familiar, porém novo. E por quê? Um mínimo detalhe. Se comparado ao passado, há um toque de raiva tão autêntico em sua voz que, antes, nem sequer havia vestígios de que seria possível existir. Mesmo assim, a Lopez aceitou sua mão e seu abraço, sem pensar duas vezes. E, isso, não é algo que a mais nova deixaria passar batido. Aliás, toda a situação se alojou em seu peito de tal forma que nem se quisesse conseguiria abandonar.

Ainda existe esperança. Aquela lá, que deu forças à fotógrafa no passado para conseguir terminar tudo, essa mesma, continua firme e forte, só esperando por minutos chave como esse do avião. A estrada de volta ao âmago de Santana é mais concreta do que nunca, esburacada? Sim, sem dúvidas. Mas, viável. Basta reparar a inexplicável má comunicação herdada das últimas semanas de namoro delas. Não será um caminho tão fácil de ser traçado, todavia a canadense descobrirá um jeito. A hora é agora. O que lembra a Pierce da primeira vez em que a outra disse "eu te amo", de fato.

Estavam em algum parque de Pasadena, andando de bicicleta numa trilha própria para tal, ou pelo menos é isso que elas faziam, antes da loira cair no chão e se ralar toda. Era um dia ensolarado, ela se recorda bem... Suas roupas e feridas cheias de terra. E os olhos castanhos que vieram te acudir? Sorridentes como nunca. O que era meio sádico da parte de Santana, mas ainda sim, lindos de morrer. Bom, a verdade é que eles conseguiam ser seu porto seguro até nos momentos em que tiravam sarro da sua cara, o que queria dizer muito.

Aiiii, Sannie!

— Desculpa... — A latina tentava segurar ao máximo os risos, enquanto jogava água nos machucados da namorada. Até que não pode mais, porque era engraçado demais. Brittany era uma graça que só. — Tenho que dizer... Eu tô impressionada com o seu equilíbrio, Britt-Britt... Digo, com a falta dele.

Aaaiii! — Ela continuou a lamentação, dando um gemido preguiçoso por fim. — Tinha esquecido como cair dói.

— Sério? — Santana riu. — Você me pareceu tão expert no assunto.

— Não tem graça. Eu poderia ter morrido, tá? Olha só o rombo na minha perna... — A loira brincou, torcendo o rosto em seguida, por causa do ardido dos ferimentos. — Foi uma péssima ideia sair da cama hoje.

— Eu falei pra você não usar esse shortinho e pegar uma das minhas leggings. Não falei? — A mais baixa se botou a rir, outra vez. — Não quis me ouvir, tá aí o resultado, se ralou toda... Trouxa.

— Ei! Não imaginava que você ia começar a correr do nada, né? Achei que só íamos passear na moralzinha, poxa...

— Ah, mas aí não teria graça. E olha, também não pensei que seu sedentarismo era nesse nível, você não pode me culpar... Como mantém esse corpinho lindo aí é um mistério.

— Mistério nada, menina. Anos de salgadinho, miojo e muito doce. Você deveria tentar.

— Credo. — A cozinheira gargalhou junto à garota. Depois, se aproximou mais um pouco e, mexendo em algumas mechas loiras, verificou se existia alguém as fazendo companhia ao redor daquela trilha. Não existia. — Sabe, Pierce... Eu nunca vi alguém cair com tal maestria igual você.

Our Hands Tied - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora