22. Aquele com a psicóloga e o fogo

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As digitais de Brittany alcançam o rosto de Santana, mais uma vez, ao passo em que ela observa a outra mulher dormindo serenamente sob seus lençóis. Olhos azuis acompanham todo o trajeto delicado que as pontas dos dedos finos fazem pela face da Lopez, e o respirar da Pierce torna-se tão sereno quanto o da adormecida.

É estranho pensar na falta que ela sentia disso.

É estranho pensar no medo que ela tem de perder tal feito, outra vez.

Mais estranho ainda é pensar na calma e anseio que seu coração revela a cada batida, simultaneamente. Natural do amor. Com mansos toques, a fotógrafa desenha e redesenha as sobrancelhas da morena, dando um largo sorriso ao notar que a mesma está prestes a acordar. E aí, repousa um polegar sobre a bochecha da Lopez acarinhando-a, e o restante da mão entre sua mandíbula e nuca.

— Bom dia, Sannie. — Ela aplica um selinho na testa da mais velha. — Ou melhor, boa tarde.

— Boa tarde... — Santana responde, ainda de olhos fechados.

— Como tá sentindo?

— Bem... Eu acho. E você?

— Que bom, também. Então... — A canadense ri de forma travessa, escorregando os dedos finos por todo o braço abrigado da latina. — Tô curiosa. Lembra das ocorrências da noite de ontem?

— Depende. — Santana se espreguiça ligeiramente na cama e, quando volta a se virar para o lado da loira, apoia a cabeça em sua própria mão, abrindo os olhos para poder enfim fitá-la. O quarto é semi-iluminado por uma frestinha de luz que entra pela janela mal-aberta. — Qual parte?

— Essa daqui... — Brittany aponta para a sua camisa xadrez no corpo moreno, e Santana se surpreende ao enxergá-la, fazendo com que a Pierce solte uma risada e chegue mais, lhe dando um beijo sossegado nos lábios, para completar rapidamente depois: — Só pra constar, a gente não transou.

— Ah, não?

— Não. — Ela nega, esclarecendo: — Não por falta de vontade sua ou minha, claro. Mas, levando em consideração tudo o que aconteceu da última vez, eu nem me atrevi a beber nada com você doidinha como tava, senão a gente já sabe como seria o final dessa história. E eu, realmente, não tô a fim de levar outra surra de travesseiradas...

A cozinheira intercala sua atenção entre a boca e os olhos da mais alta e sorri durante todo o processo. É como costumava ser. Mesmo não sendo.

— A verdade é que você quis a camisa de volta, e quem sou eu para negar uma coisa dessas pra minha namorada, né? — A dos olhos azuis faz uma breve pausa, quando olhos castanhos sustentam-se nos seus. — E sim, eu disse: namorada. Fique você sabendo que não aceito contestações quanto ao meu posto de atual namorada fixa, Santana. Nem adianta tentar voltar atrás em suas palavras, falou tá falado.

— Certo... — A Lopez se diverte, afundando o rosto no ombro da outra. — Não pretendia contestar nada mesmo.

Brittany dá risada, abraçando-a.

— Quem vê, pensa.

— É sério... — Ela transcorre a ponta do nariz pela clavícula da Pierce e sobe, dando-a beijinhos, até sua boca ficar na altura do ouvido dela. — E pra sua informação, não teria problema nenhum se a gente tivesse transado, Britt-Britt.

Aham... — Brittany ri, mergulhando os dedos na nuca de Santana, e a conduzindo um pouquinho para trás pelos cabelos. — Tá achando que me engana, é Dona Santana?

A morena leva uma mão até as bochechas da outra e as aperta com os dedos, fazendo a loira ficar com a boca de peixinho, gargalha horrores com a deliciosa cena.

Our Hands Tied - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora