13. Aquele com alguns termos

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É bem cedo.

E Santana está de pé, posicionando o pó dos grãos de café que acabara de triturar – em seu moinho elétrico; no coador, conforme água e tacos têm lugar ao fogo. Dino a faz companhia o tempo todo, e seus olhinhos não deixam gesto algum passar. Sem demora, a morena apaga uma das chamas e inclina a chaleira que jazia ali, fazendo com que a água fervente de dentro vá de encontro à pulverização aromática no tecido sombreado presente ao alto de uma jarra de vidro. Depois, é a vez da outra boca do fogão ser desligada e as formosas massas serem passadas da frigideira aquecida para um prato frio.

Certo...

O canto dos pássaros lá fora é transparente.

Pensativa, a cozinheira se senta à mesa e começa a comer.

Foram três anos separadas. Três anos se envolvendo com outras pessoas. Três anos se refazendo e evitando ao máximo se lembrar ou falar de Brittany e... Ainda assim, bastou que ela aparecesse em sua frente e é como se Santana se despedaçasse a cada respiração... A cada vista, palavra. Trazendo tudo de volta a si. Como se nenhuma das outras pessoas jamais tivesse estado em sua vida. Como se Brittany fosse labirinto sem saída. Isso... A enche de raiva. Mas, não qualquer raiva. Esse é o problema. Não ter ódio o suficiente em seu peito, controle o bastante sob os seus sentidos, querer chegar perto da loira, querer fitá-la, ouvir sua voz, sentir seu cheiro, o calor de sua pele, a tira do sério. Nada disso tem lógica... Porém, quiça tenha solução.

Claro, sempre tem.

Ela tem.

Em algum momento, a Lopez se ergue da mesa para poder separar o coador de pano da jarra de café e quando volta ao seu lugar, grudada a uma xícara da bebida, não demora muito a avistar Brittany brotando como um zumbi no cômodo até então silencioso.

"Aw!"

O cachorro a vê também, alcançando-a aos pulos.

— Oi, Dino! — A loira se ajoelha, o enchendo de carinhos. Todavia, não se prolonga muito, ficando de pé em seguida. Prende os olhos em Santana que, por algum motivo, não se dirigira mais a sua pessoa na noite anterior, após agradecê-la em razão da sala arrumada, e cumprimenta-a, sem esperança de resposta: — Bom dia...

— Bom dia. — Ela responde normalmente, observando a Pierce dar um sutil sorriso e se virar, tirando uma embalagem de cereal dos armários, leite da geladeira e se dispor de algum pote e colher que obtém no meio da louça. — Tem café... Se quiser.

Um tanto surpresa, Brittany a fita.

— Obrigada... — Diz, e começa a se servir, chegando perto da mesa no decorrer. — Posso?

Santana balança a cabeça em afirmativa e a canadense se acomoda, tranquilamente. Frente a frente, ficam num sossego esquisito. Assim, a latina decide que é hora de abrir a boca, pondo à tona suas reflexões.

— Brittany, eu estava pensando... Já que, no momento, estamos nessa situação, seria bom deixar algumas coisas claras por aqui. Então... — Ela destrava seu smartphone e o empurra na direção da ex-namorada. — Eu listei maneiras de tornar isso mais suportável.

— Ok... — Olhos azuis correm, brevemente, pela tela do aparelho. — E eu vou precisar assinar esses seus "termos de convivência" ou algo do tipo, Santana?

Ela fecha a cara.

— Só tô brincando! — A Pierce se defende aos risos e leva outra colherada de cereal à boca, pretendendo ler a lista com atenção agora. — Vamos ver: "Manter a casa limpa"... Nã, nã, nã... "Dividir as contas adequadamente" é, bem lembrado... "Ter cuidado para não entupir/viciar o Dino com petiscos ou frutas" ok, justo... "Não perambular seminua pela casa" e... "Nada de selinhos, tampouco aproximações corporais repentinas de mesma natureza".

Our Hands Tied - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora