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Narradora Point Of View

_ O que você está fazendo aí?.

A voz soou grossa e ligeiramente irritada, chamando a atenção da pequena que ergueu os olhos vermelhos e irritados. A menor enxugou as poucas lágrimas que molhavam o seus rosto angelical, e fungou profundamente antes de responder.

_ Nada.- Ela murmurou em voz baixa, e então encolheu-se mais na parede. Estava sentada no chão do quarto, os braços abraçavam as pernas dobradas como se a sua vida dependesse daquilo. Estava daquele jeito a dias. Não comia, não desenhava mais as escondidas, não sorria por nada e chorava em todas as noites e manhãs.- A Brianna só está cansada.

_ E isso definitivamente não me interessa.- Nikki respondeu dando de ombros, e então segurou o braço da pequena antes de erguê-la de qualquer maneira. Brianna gemeu ao sentir as unhas afiadas da mais velha arranharem a sua pele, mas engoliu vontade que sentia de gritar porque sabia que seria pior caso o fizesse.- Você sabe que se quiser colocar alguma coisa nesse organismo, vai precisar procurar por si mesma, certo?.- Brianna assentiu em silêncio, voltando a fitar o chão.- Então o que ainda está fazendo aqui?

_ E-estou cansada, tia.- Falou, e rapidamente fechou os olhos ao sentir uma ligeira tontura. A cabeça realmente doía, assim como o corpo todo. Era uma sensação que ela não conseguia descrever, e que em muitos momentos era o motivo do seu choro durante as noite e manhãs.- A minha barriga dói.

_ Isso não é da minha conta.- A loira deu de ombros desinteressada, e então literalmente arrastou a pequena até a porta de madeira que separava a sala do quintal. A medida que o seu corpo balançava contra sua vontade, Brianna soluçava quase que em silêncio, e deixava as lágrimas caírem.- Você vai sair agora, e tem três horas para estar de volta, estamos entendidas?.-Silêncio.- Eu estou falando com você!.- Balançou bruscamente o corpo frágil da garota que sentiu como se o chão abaixo dos seus pés rodasse sem parar.

_ E-eu..eu não quero..dói.- Ela murmurou em meio ao choro, a mão que não estava presa entre os dedos de Nikki por cima da barriga.- Por favor, tia.- Suplicou, os olhos cheios de lágrimas fixos no rosto impassível da mais velha.

Nikki encarou a pequena por segundos intermináveis, e pensou até em deixá-la realmente descansar naquele dia. Mas, quando lembrava de tudo que Robert fez para si, de todas as vezes que ele agiu como se ela fosse uma das garotas que comia em cada dia, ela sentia vontade de deixar a pequena Brianna na rua só para se vingar um pouquinho do primo. E no fundo, ela sabia que Robert não se importaria se alguma fatalidade acontecesse com a filha, o que ele não poderia deixar acontecer, era que a imprensa ficasse sabendo que tinha uma filha que vivia em condições tão precárias, quando na verdade, ele era um fodido rico.

_ Daqui a três horas estarei esperando por você bem aqui.- Repetiu sem esboçar reação alguma, e voltou a entrar em casa deixando a menor do lado de fora em meio a um choro doloroso.

Por quase dez segundos, que pareceram anos, Brianna permaneceu imóvel. Sentia as lágrimas molharem o seu rosto, e se perguntava o porquê de não poder brincar com as outras crianças, ir a escola como as outras crianças, ver desenhos como qualquer criança, e aquilo doía. Doía tanto, que em muitos momentos sentia vontade de virar uma estrala como a mãe. Acreditava que se calhar, se fosse uma estrela bem brilhante, não sentiria a dor que tomava conta do seu corpo naquele momento.

A pequena enxugou rapidamente as lágrimas com as costas da mão direita, a esquerda estava realmente dolorida pelo forma que Nikki a segurou, e deu alguns passos até alcançar a rua. Ergueu o rosto em direção ao sol, sentindo os raios tocarem diretamente em sua pele, e com um último suspiro cansado, ela atravessou a rua pronta a enfrentar mais um dia.

Destino? TalvezOnde histórias criam vida. Descubra agora