83

152 22 39
                                    

Narradora Point Of View

No inicio não havia nada, exceto a dor que tomara conta do seu corpo. A dor que veio de forma lenta, conforme a informação de que Henrique havia falecido assentava em sua cabeça. Lembrava-se vagamente de começar a perder os sentidos quando braços rodearam a sua cintura evitando que fosse parar ao chão. Lembrava ainda de ter visto Mane ajoelhado no chão enquanto murmurava coisas das quais não mais conseguia lembrar, não mais do que isso.

Não saberia dizer exatamente por quanto tempo ficara desligada do mundo, apenas imaginava que havia sido um tempo considerável, já que agora era possível ver o céu escuro através da janela do seu quarto. Estava deitada em sua cama, um cobertor grosso cobria o seu corpo pequeno, os olhos demonstravam a angústia e a dor que gritava por liberdade. A cabeça pareceu pesar muito mais quando ousou ficar sentada.

_ Eu estou aqui, babe.- A voz soou baixa, atraindo a atenção dela que virou o rosto para o lado direito. Enxergou Alfonso sentado em uma poltrona perto da cama, o celular em mãos e um vinco de preocupação na testa.

_ Quanto tempo?.- Perguntou, os olhos azuis, totalmente apagados, fixos no rosto dele.- Faz quanto tempo desde que eu apaguei?

_ Dez horas agora.- Respondeu enquanto se aproximava da cama.- Você teve uma crise no hospital e eu precisei seda-la.- Explicou conforme se acomodava ao lado dela.

_ Tudo bem.- Disse simples, e no minuto seguinte pulou para fora da cama.- E-eu preciso ver os meus filhos e depois voltar ao hospital, a Brianna precisa de mim.- Anunciou, os olhos correndo por todo cômodo como se estivesse procurando alguma coisa.

_ Ana.- Ele chamou, e em seguida suspirou profundamente ao receber um olhar frio e indiferente de Anahí.- Você não pode fingir que nada aconteceu, amor. Não faça desse jeito, não esconda o que está sentindo. Eu estou aqui, por favor.- Alfonso observou a namorada que com toda pressa retirou a roupa e entrou no banheiro sem dizer uma única palavra.

Quando ela saiu, de roupa trocada e cabelo preso, o neurocirurgião ainda estava do mesmo jeito. Observou Anahí andar de um lado para o outro até encontrar o celular que estava largado encima da cômoda.

_ Nós precisamos conversar.- Alfonso murmurou cansado. Desde que deixou o hospital com uma Anahí completamente apagada em seus braços, não conseguiu pregar os olhos. Como médico, era muito difícil quando não conseguia salvar um paciente, mesmo após ter dado tudo de si. Era frustrante. E toda aquela frustração só aumentou quando soube que aquele homem, cuja vida não conseguiu salvar, era simplesmente o pai de sua noiva.

_ Não, nós não precisamos conversar.- Anahí respondeu, a voz  soando indiferente.- Os médicos finalmente conseguiram um transplante para Brianna. Eu fui contar isso à você hoje cedo, mas então...- Ela engoliu em seco, se reprimindo mentalmente.- Você disse que fazem dez horas agora desde que eu apaguei, então a essa altura o transplante já deve ter sido realizado, tudo isso enquanto eu descansava nessa maldita cama. Então, tudo que eu não preciso nesse momento é conversar. Eu vou lá ver como os meus filhos estão, e em seguida vou até o hospital saber do estado da Brianna. Espero que você não se importe em ficar com a Blair e o Natan por mais algumas horas.

Simples assim.

Curta e grossa. Fria como gelo.

Alfonso observou-a sumir pela porta, o semblante fechado. Conseguia ver de longe o quanto ela estava tentando ocupar a mente com outras coisas para não pensar em Henrique, para não desmoronar. Via a dor estampada em cada respirar dela, em cada olhar desviado, em cada engolir em seco, e sentia-se impotente por não poder sumir com tudo aquilo. Mas, em todo aquele tempo de convivência, ele aprendeu que Anahí não funcionava sob pressão, então ele decidiu apenas ficar ali, fazendo tudo o que estivesse em seu alcance para ajudá-la, esperando chegar o momento em que ela colapsaria, para ajudá-la a ficar em pé novamente.

Destino? TalvezOnde histórias criam vida. Descubra agora